17 outubro 2011

Carta da Dona Sociedade para uma Professora

Senhora professora:

Acho que a senhora deveria trabalhar mais e reclamar menos.  Ouvi falar que os professores estão pensando em fazer greve outra vez. Que absurdo! Todos os anos é a mesma história. E quem paga são os nossos filhos. Que, aliás, são muito mal tratados nas escolas. A senhora é uma daquelas que obriga os alunos a ter disciplina na sala de aula? Que não deixa eles conversarem? Hoje vivemos um novo tempo, onde as crianças e os adolescentes têm todos os direitos e nenhuma obrigação, a senhora sabia? Ora, exigir disciplina. O aluno tem que ter a liberdade, principalmente a que ele não tem em casa.

Afinal, ir para escola é uma forma também de se divertir, de passar o tempo, de extravasar as emoções, de liberar adrenalina. Quer a senhora, decerto, que todos fiquem sentados comportadinhos em suas classes? Sim, eu sei que sempre têm os alunos violentos, que batem em colegas e em professores, até matam, de vez em quando.  Mas pense comigo, professora: 1º) Esses são exceções. A maioria dos alunos são bem comportados, o meu filho, pelo menos, estou certa que é. 2º) E a senhora escolheu ser professora.  É, porque quis ser, ninguém lhe obrigou. Então, tem que aguentar o tranco. 3º) E será que a senhora também não tem culpa em ter algum aluno violento? Vai ver, a senhora não sabe ensinar, ou não sabe tratar os alunos adequadamente, quer oprimi-los, não é mesmo? Meu filho já cansou de chegar em casa dizendo: “aquela professora é uma vaca!” E eu tenho que dar razão para ele. Meu filho jamais diria isso se não fosse uma verdade. Os professores deveriam todos estudar psicologia para entender essa questão. Mas não, só querem saber de mandar tarefinha para casa. E a pobre criança que se vire. E acabam, assim, prejudicando todo o nosso merecido descanso no lar.  

Aliás, acho que o nível dos professores no Brasil está baixíssimo, de dar dó. Não sabem nada. O que fazem em casa? Minha senhora,vá estudar mais. E não venha reclamar que ganha pouco. Tem muito servente de pedreiro que ganha muito menos. Dá muito bem para a senhora fazer uns cursos e comprar mais livros. Não faz de preguiça. E aposto que o seu marido tem dinheiro, pois já percebi que as professoras geralmente são casadas com maridos ricos. Por isso que gostam tanto de fazer greve. Podem ficar em casa sustentadas pelos maridos.

E eu cumpro com minha obrigação, sempre mando meu filho para a escola. Depois lá, é problema do professor. Ele que se vire. Também não sou obrigada a aguentar meu filho 24h por dia em casa. E isso que ele é uma santa criança. Imagina, minha senhora, uma daquelas crianças que são uma peste. Têm que ir para escola mesmo. Para lá liberar suas tensões. Como que uma pobre mãe vai aguentar o dia inteiro uma criança desse tipo? O professor também têm suas obrigações para com os nossos filhos. Deve saber tratá-lo, entendê-lo. Ganha pra isso. Também pra isso. E para várias coisas mais.

Faz parte da profissão, é assim, não posso fazer nada.  A senhora tem que se contentar com a profissão que tem, poderia ser pior. E pare de falar em greve, que já está me dando nos nervos.

Assina: Dona Sociedade da Silva



16 outubro 2011

Pedido

mantenha-me
atento-te
ao mim mesmo
e a tudo que me acerca
e ao cerco
que me há pressa
e ao circo
(de esterco)
deste mundo
atenta-me
e tenta-me
versa-me no teu adiante
de paz e de todo instante
e no teu desilusionismo
pro fundo

ao fundo
do meu lago
que nenhuma onda
se afogue ou se abale 
quer por onde
eu vago
quer por onde
eu vale...

(pre)
sinta-me na minha pele
sem motivo ou alarde
que antes da queda
eu pegue
seja cedo ou tarde
seja mau ou bela:

eterna vigília
e alerta sentinela
porque sempre há um crime
entre um alarme e outro
do que é sublime...



14 outubro 2011

Aquilo que nem quero dizer...

não venha ler aqui
alguma coisa dita
não me procure razões
naquilo que nem quero dizer
que uma palavra real
não vale a pena ser escrita
não me procure lições
naquilo que não quis estar
ainda que se diga coisa alguma
nada do que é humano
irá em verdade mudar

deixa este verso não ser nada
uma realidade fora além inexistente
distante  de tudo o que é
(e o que é que é?)
nem dito para
nem feito por gente
por que haver aqui qualquer verdade
qualquer filosofia
ou alguma fé?

não procure aqui uma mensagem
não queira saber se estou certo
há tanto outro tanto
eu mesmo sou outra imagem
do que nunca se irá sonhar
então que isso não passe
de uma canção sem letra
ou de um suspiro que descansa
que descansa
pelo lago alado do ar
pelo lado amargo da dança...


deixa este verso bem longe
de tudo que se aproxime da vida
quero que ele voe
lá onde me esconde
e deixe aqui minha alma
abismada
mas erguida

11 outubro 2011

Marcha do Ocaso Perdido

além daquele eternus
sonhava um sol...

a céu que não descia
pairava um mas

aquém do verde negro
loucura em vão

azul velado em nuvem
cigarro à cruz

um álcool lento a lento
do que mais fiz

um vento em mão há Brahms
e um deus não vou

fumaça em lança estrela
gritar sem som

desejo insana a vida
fracasso e luz

sentir venena a rosa
tristeza o sim

há noite alenta espera
do que não sou

amém duele infernus
sonava um não

10 outubro 2011

...do Réquiem de Mozart

se fosse o ribombar de um sino
pela morte de um gênio
se fosse o choro de uma criança doente
e o rugido de um leão
no terrível das savanas africanas
e a tragicidade desolada
do som do tombo de uma árvore
e o clamor surdo
dos que morrem de fome no planeta
e a agitação jamais curvada
dos maremotos em oceanos
e a violência sem compaixão
da revolta de furacões
e o desabar indômito
de toda uma cidade por um sismo
e os coros apocalípticos
do Réquiem de Mozart
e a  capacidade sublime
das Sinfonias de Beethoven
atingir todo o universo...

se  eu conseguisse reunir
todos esses poderes sonoros
talvez eu fosse ouvido...

mas o meu poema
é só o meu poema...

07 outubro 2011

Os ideais da humanidade se limitam à posse de um apartamento, uma geladeira, um computador e um automóvel.

Entre os contistas e cronistas brasileiros, o mineiro Fernando Sabino (1923 - 2004), é um dos meus preferidos. Foi um notável observador do homem, do estado da humanidade, do cotidiano das pessoas, daqueles pequenos detalhes a que geralmente não damos muita atenção, mas que uma vez revelados nos indicam a realidade caótica em que nos encontramos. E algumas das viscerais observações de Sabino estão na crônica "O Ano Que Vem", do livro "A Cidade Vazia", de 1948, uma das primeiras obras do escritor. Vamos a alguns trechos da crônica, ainda incrivelmente atual:

"Os ideais da humanidade se limitam à posse de um apartamento, uma geladeira, um rádio e um automóvel. Há qualquer coisa de trágico nesse cerceamento do espírito, nessa canalização de sentimentos que exige, na sua prática, uma disciplina de verdadeira filosofia iogue: a felicidade está em repetir, cada um para si mesmo, da manhã à noite, "sou livre!", "sou alegre!", "sou feliz!" até que a ilusão de uma realidade perfeita baixe sobre todos."
(...)
"Ele dirá fatalmente entrando num apartamento qualquer: "That Beautiful!". Beautiful por quê? Não é um apartamento exatamente igual aos outros? A milhares de outros, com o mesmo banheiro de paredes imitando azulejos. Com a mesma sala de estar sem janelas, estrangulada no meio dos quartos. Com as mesmas paredes de madeira e com as mesmas reclamações dos vizinhos. (...) "What a wonderful car!" ele dirá  então, apontando para qualquer Chevrolet que lhe mostrem, enquanto lá nas fábricas um outro exatamente igual vai sendo lançado por minuto."
(...)
"Nada como exteriorizar um otimismo inexistente para fazer do conformismo uma ilusão de independência. Para fazer da vida algo que se gasta, com o dinheiro, na compra de imediatas e concretas fruições. Sou feliz, sou feliz - trancados no quarto, cercados de ruído, engaiolados em armações de aço, consumidos de uma insônia contra a qual as pílulas sedativas nada podem, o tédio e a solidão a espiar do canto, como dois demônios parados,, repetem até alta noite o refrão monótono de um dínamo esgotado que reacumula energia para as atividades do dia seguinte."

"O Ano Novo, onde está? O mundo continua o mesmo do ano passado, de todas as partes continuam chegando notícias de mortes, misérias, fome, guerra, sofrimento. Nenhum milagre aconteceu."

Alguém discorda do Sabino? Lá nos ideais da humanidade podemos substituir o rádio pelo computador. O resto continua igual. 

06 outubro 2011

Tens Certeza que Vês?

observa bem
(seja aqui ou além)
tens certeza que vês com atenção?
e ainda que tenhas
estás certo que tua atenção
é mesmo atenção?
como sabes que estás atento
se não podes saber
se o que passa
passa lá fora ou por dentro?

o que foi realmente que viste?
Deus indicando o seu Céu
ou  o Diabo com uma espada em riste?
olha bem
que o que tu atentamente olhas
dando de ti teu melhor
olha a ti de dentro de um olho
que te cerca por todo redor

e ainda mais atenção
há que se derramar sangrando
sobre aquilo que adeja
entre o que deseja
o teu coração

estar atento
é saber (o) que se pensa e se sente
a todo vasto momento
e olhar para o alto para o som para o mar
ou seja o mais o que for
e saber que sem ver o que lá está
há outro alto outro som outro mar
e outro mais o que for
e talvez então
se observares bem
esteja também
o Amor...




04 outubro 2011

Ninguém Pode Sabê-lo...

o teu Mistério
ninguém pode sabê-lo nem vencê-lo
rosto de mar que se esvai pelas tênebras
e lá onde as verdes vozes ciclonam
o teu mistério ninguém pode sê-lo

que se espalha pelo azul dos mais vastos
em beijos de folhas que serenam perfumes
água da noite que se luz no não-dito
e lá onde há um vasto verso de ave
o teu mistério ninguém pode vê-lo

ninguém pode ser o que vê sem ter sido
e nem pode saber se não vence o não-visto:
agora estou vago e do sol sinto um halo...

o teu mistério ninguém pode sabê-lo...
só misteriá-lo.

02 outubro 2011

Poema Cínico

aqui estou perdendo meu tempo
(mas como diria Fernando Pessoa:
o que é o tempo para que eu o perca?)
e com prazer perco meu tempo
aspirando pelo nariz o delicioso
veneno de um cigarro
despejando pela garganta o consolo
delirante de um vinho...

tocando em sonhos absurdos
buscando as antigas inspirações
que não inspirarão ninguém
entendendo toda a humanidade
sem sair da minha preguiça
mergulhando no irreal da minha noite
que nada há de mais real
que o que pode ser imaginado...

aqui observo indiferente
a falsa felicidade de todos
que talvez seja ainda pior
que a minha autêntica tristeza...

enjoando de ser ser humano
engenhando aqueles planos
que por mais que façam sucesso
não me trarão sucesso algum...

lembro do tempo em que eu me esquecia
e escrevo algumas linhas
que são ainda mais esquecimento...
por que devo fazer alguma coisa à humanidade?
ser produtivo
é um ato falho
por isso é que não produzir nada
é o meu mais difícil trabalho.

30 setembro 2011

Sobre a Tua Vida Esmagada

graxaim atropelado
pela estrada
ninguém derramou uma lágrima
sobre teu sangue esparramado:
para quem passa rápido
tu és apenas um nada

tu sendo um
és todos
que deixaram de ser
para que fosse o progresso
ninguém se importa:
a tua existência no mundo moderno
é inútil e é um excesso

sobre a tua vida esmagada
soprou o leve da brisa
dos sorrisos dos que passam
pensando em um beijo na noite
ou em dormir com a consciência dos justos
ou numa festa pela madrugada
sobre a tua vida esmagada

eu mesmo...
eu fiz o quê?
nada
só um poema
que também será nada
para quem lê

29 setembro 2011

Planeta sendo Consumido pela Desertificação

Mas, como sempre, ninguém, ou quase ninguém, está ligando.  Se a maioria das pessoas estivesse se importando verdadeiramente com o fato, o fato deixaria de ser um fato. Porém, o fato é que segundo a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (CNUCD) – percebam que a questão é tão grave que a ONU criou uma convenção específica para a questão - A cada ano são perdidos 12 milhões de hectares de terras produtivas. 12 milhões. A cada ano.  E a CNUCD diz ainda o seguinte: "A cada minuto são perdidos 23 hectares de terras produtivas por causa da degradação". A CADA MINUTO! Já pararam para pensar? Aonde vamos chegar? O planeta se tornará um só Saara?

Nessa superfície do planeta perdida a cada minuto, 23 hectares, seria possível se produzir, segundo a CNUCD, 20 milhões de toneladas de cereais. O curioso é que sempre se pensa no potencial econômico da terra, mas nunca na vegetação natural que ali poderia existir, nos animais selvagens que poderiam ali viver se a região não tivesse se desertificado.

Segundo a ONU, 2,3 bilhões de pessoas, em mais de 100 países, vivem em regiões áridas ou semi-áridas. E muitas dessas regiões áridas não são naturais, mas foram criadas pela ação humana, foram desertificadas. Aqui mesmo, no RS, temos fatais exemplos desse desastre. Aliás, aqui mesmo em meu município, Santiago, há árias desertificadas, pequenas, mas existem. E estão crescendo ano após ano.  Em Alegrete, já há até um verdadeiro pequeno deserto. Tem até nome: “Deserto de São João”. Com 940 hectares de área. Não é o deserto que virou mar, mas o pampa que virou areia. Calcula-se que a área total desertificada no RS esteja em torno de 3000 hectares.

O que causa a desertificação todo mundo sabe. Precisa repetir? Bem, algumas das causas precisam ser sempre lembradas, ainda que inutilmente. Plantar pinus é uma delas. O pinus suga água demais nas nossas terras. Mas continuam plantando, dá muito dinheiro, é ótimo para a economia, para o progresso, para o desenvolvimento da nação. Outra causa é o Aquecimento Global. Contudo, muitos dizem que ele nem existe, que é uma farsa. Então, para que nos preocuparmos? Não há com o que se preocupar. Deixemos que o Brasil vire deserto e queime em meio a magníficas secas recordes.

Que o diga Fernando Pessoa: “Pouco me importa. Pouco me importa o quê? Não sei. Pouco me importa.”

(Nas imagens acima, o pampa em seu estado original e o pampa desertificado.)

28 setembro 2011

a Quem Dorme

vou ver se durmo
volver-se só pelo não-dito
versar em névoas
tudo que me deixa aos olhos
descendo oculto
nunca develar-me sendo
a ver se pairas no que sou
tuas essências...

majestei-me às asas
fêminas sem destino
perdi-me em cânticos sentenças
que te foram...

lá que encontro as febres
que à noite em mim serenam
como luzes de um segredo
sempre em sangue e astro
encontro-me ao sopro
que não chegou me antes
a sonatar o meu sono
que sonhei-vertigem...

dormir é revolver-se um livro interno
dormir é resolver-se em esquecimento
um mortal fatal momento
no eterno...

(Na imagem, o quadro "Ophelia", de Millais.)

26 setembro 2011

Meu Mundo Humano

eu sempre esperei mais de ti
meu mundo humano
que não é meu
sendo meu também
para ver a altura suprema
dos teus arranha-céus
olhei para o fundo de um abismo
em que também me sou
e quando voei nas tuas naves
eu não me ergui do chão
e quando contemplei o verde
dos teus campos cultivados
o verde da minha esperança murchou
e quando na multidão das tuas grandes cidades...
tornei-me ainda mais sozinho
do que já estou
e ao saber das descobertas
da tua grande ciência
vi que ainda não tinha descoberto a mim
e todos os teus potentes veículos
não me levaram a lugar nenhum
e tudo o que construíram tuas indústrias
contribuíram com a minha destruição...

observei a tudo isso
profundamente entristecido
mas não chorei...

só a Arte me faz chorar.

25 setembro 2011

Tigre, de William Blake

Sou um grande apreciador de William Blake (1757 - 1827), de sua literatura e de sua pintura. Blake era um gênio, um louco, um inspirado no sentido mais amplo e mais absurdo da palavra. Entendam-me como quiserem. Foi um dos precursores do Romantismo. Mas sua obra está além de uma classificação de período. Ainda hoje compreendê-lo é uma tarefa difícil, no mínimo. Foi um mensageiro de coisas para as quais geralmente não há mensageiros. Compartilho com os leitores o magnífico poema abaixo e o misterioso quadro "Satã Contemplando o Amor de Adão e Eva".



O Tigre

Tigre, tigre que flamejas
Nas florestas da noite.
Que mão que olho imortal
Se atreveu a plasmar tua terrível simetria ?

Em que longínquo abismo, em que remotos céus
Ardeu o fogo de teus olhos ?
Sobre que asas se atreveu a ascender ?
Que mão teve a ousadia de capturá-lo ?
Que espada, que astúcia foi capaz de urdir
As fibras do teu coração ?

E quando teu coração começou a bater,
Que mão, que espantosos pés
Puderam arrancar-te da profunda caverna,
Para trazer-te aqui ?
Que martelo te forjou ? Que cadeia ?
Que bigorna te bateu ? Que poderosa mordaça
Pôde conter teus pavorosos terrores ?

Quando os astros lançaram os seus dardos,
E regaram de lágrimas os céus,
Sorriu Ele ao ver sua criação ?
Quem deu vida ao cordeiro também te criou ?

Tigre, tigre, que flamejas
Nas florestas da noite.
Que mão, que olho imortal
Se atreveu a plasmar tua terrível simetria ?

William Blake

23 setembro 2011

Ilógico

entre o tudo que não existe
dou-te este poema
vitoriosamente triste
ou que nem triste chegou a ser:
talvez o fosse
se eu me pudesse ver...

mas se minha tristeza
não é suficiente
talvez o seja
o olhar ao mundo
como morrer
e ser profundo

a minha humanidade
não me perdoa:
sou minha culpa
que te não voa

e o que me eleva
é o que não passa:
ah quem me dera
ser um veneno
na tua taça

e o horror divino
é sempre firme
em tudo há medo
e aponta um dedo:
sentir é crime

eu sou aquilo
que não me esquece:
sou como um sono
e tu minha prece

a minha palavra
não dará ensejo
a nenhuma lágrima
mas será um desejo
de organismo etéreo
despencando do que tristeza
ao ilógico do que mistério...