22 novembro 2007

Minha Absurda Lira

minha lírica de adeus e crepúsculo
vê sóis naufragando nas torres
das torres partem olhos e pios
de corujas com asas de sangue
que gotejam nas luas de fel
como beijos que sonham e morreram
altas mortes de tudo que foi
tu não vieste nas asas das íris
tu não viste minha alma de fim
gritos da noite caídos de luz
ciclones de anjos rezando desgraças
a roxo navio que afunda no céu
céu de tormenta que canta em tua boca
tudo que vai que se perde se finda
dança um azar no lábio no mundo
fogo em promessas de três Prometeus...

quando tua face olhará no meu sono
e na minha lira de ocaso e adeus?

12 novembro 2007

A Molécula da Última Lágrima

A menina Aloncier sentara-se em meio a um magnífico e intensamente verde descampado, de um verde estranho e irradiante de estranhas sensações, nas planícies de Samoth, uma das mais belas de seu planeta. Alta, com uma tonalidade de pele moreno-avermelhada, possuía longos cabelos ondulados, também de tons rubros, e olhos de íris tenuemente lilases. Se alguém pudesse contemplar sua face naquele momento, perceberia que a menina, em seu rosto belo mas insólito para nossos padrões, exibia uma fisionomia de alguém que está imerso em profundas meditações...

O ambiente em que Aloncier se encontrava, que transmitia inquietantes impressões de infinitude e de cósmica liberdade, era de uma serenidade absoluta; nenhum tipo de construção artificial ali se apresentava, e contemplava-se os horizontes de um vivo azul-purpúreo, sob um céu tão veementemente azul que parecia quase palpável, tamanha era a sensação de vida que dele emanava. Em tal céu, não se avistava nenhuma espécie de nuvem e, além da luz solar, estranhas e intensamente brilhantes luzes fulguravam por todos os cantos, tanto na atmosfera como próximas ao solo, embaixo de algumas árvores gigantes que por ali havia esparsamente.

E todas as coisas existentes aparentavam não formar sombras, pelo menos não como nós as conhecemos. Nos céus, avistava-se uma esquisita diversidade de seres, aves imensas de gritos ultra-sônicos, seres alados muito semelhantes àqueles descritos em vetustas mitologias esquecidas. Outros seres, com um venerável aspecto humanóide, que nós, pela aparência, até mesmo poderíamos classificar como anjos, planavam com suas imensas asas inauditas, ao lado de algumas coisas etéreo-transparentes, formações espirituais indefiníveis, que flutuavam de maneira enigmática pelos ares, dirigindo olhares elétricos para algum ponto não perceptível acima deles.

Toda essa profusão de coisas insólitas e misteriosas causava a sensação de uma harmonia e de um equilíbrio naturais comoventes. E a menina Aloncier ali permanecia em plena tranqüilidade, entre aquelas estranhezas absolutamente normais em seu planeta, ouvindo a música das esferas e o intrigante canto dos pássaros que lá viviam. Era inacreditável a melodia do gorjeio daquelas aves de múltiplas cores cintilantes, verdadeiramente puras e emocionais, lembrando de um modo assombroso músicas de Bach e Mozart. Igualmente assombrosa era a invulgaridade de alguns animais que por ali passavam, aparentemente mamíferos, e que... dialogavam... com Aloncier, em uma linguagem inteiramente desconhecida para qualquer um de nós.

Aliás, é notório que se diga que a menina de olhos lilases não somente dialogava com aqueles insondáveis mamíferos, como também com outros animais e seres visíveis e invisíveis, até mesmo com as plantas que a cercavam, com algumas árvores distantes e com arbustos mais próximos, em uma misteriosa linguagem que deixava a impressão de ser ultra-universal, falada por todos os seres das mais diversas e inauditas espécies. Tais diálogos aparentavam tornar-se possíveis graças às meditações efetuadas por Aloncier.

A menina encontrava-se em um estado de exultante expectativa, pois no dia seguinte completaria 14 anos e, finalmente, seria a ela revelado, por seus pais, o segredo da origem de seu povo. Este, que era formado, em todo o planeta, por alguns milhares de habitantes (essa era toda a população planetária), vivia em perfeita integração e harmonia com a natureza, poder-se-ia dizer até mesmo que faziam mais que isso, que o povo era a própria natureza, assim como o são as plantas e os animais. Aloncier, no entanto, desejava conhecer a origem de sua espécie, de onde e como teriam vindo, o que havia ocorrido em seu planeta antes de seu nascimento, antes do surgimento da sua luminosa humanidade. Como seria seu planeta há milhões de anos atrás? Que seres teriam anteriormente existido? Isso tudo seria revelado integralmente no dia seguinte, e Aloncier aguardava em júbilo o decisivo instante....

E refletindo em todas essas coisas e contemplando em êxtase o fulgurante horizonte, Aloncier chorou, e suas lágrimas caíram na grama, e da grama passaram ao solo... E uma de suas lágrimas, a última que havia chorado, lágrimas que eram formadas por uma substância bem mais penetrante que as que conhecemos, foi muito longe terra adentro. Até que uma das moléculas dessa lágrima, penetrando incrivelmente no chão absorvente daquele planeta, entrou em contato com uma outra molécula que ali jazia há muitos milênios. A molécula da lagrima de Aloncier tocara uma outra molécula, que fora, em um tempo muito remoto, de uma estátua, qual seja, a estátua do “Laçador” da cidade de Porto Alegre.

04 novembro 2007

Ao Alto

dá-me tua alma
e tua bela mão etérea
vamos às alturas aéreas
pairar sobre as auras claras
do teu sono em sombra e sonho
sair à noite como aves
aves alvas sobre os mares
com tuas fadas em alta lua
a valsar por sobre as árvores
como silfos aos luares
mais ao alto com o vento
vento astral de branca estrela
a banhar tua face pálida
em teus lábios voam arcanjos
celestiais na luz dos raios
vamos!
aos largos astros do universo
com as asas
com as asas destes versos

24 outubro 2007

Soneto de Um Maldito

Ninguém vê a lava que me mata o sangue,
ninguém vê as asas que me encobre um corvo,
nem no lábio o beijo de um anjo torvo,
nem a cruz de erros de meu corpo langue...

Minha fada morre em um lago exangue,
minha estrela urra por um céu que é torto,
nos pulsos sinto um sonho grande e morto,
como querer que meu sangrar se estanque?

Sinto a tristeza de tudo que vejo,
trago em meus ombros um grave prejuízo,
das trevas do céu me caem os desejos...

Meus olhos te deixam escuros avisos,
horrores sussurram em todos meus beijos,
e chora um inferno em cada sorriso.

04 outubro 2007

A Noite Sobre as Casas

Eu retornava tranqüilo para minha casa sob aquela esplêndida noite de inverno, contemplando em elevada inspiração o esplendor constelado da abóboda celeste possuída pelas trevas santas do infinito. Como era bela, sugestiva e inquietante a visão microcósmica da infinitude do universo proporcionada pela soturna serenidade da madrugada. Que espetáculo aos espíritos sensíveis e mergulhados no mistério inefável do cosmos, com a insatisfação típica daqueles seres fartos da vida vulgar do cotidiano.

Tal era meu estado emocional, quando cheguei à frente de minha casa e avistei, sentado sobre a calçada da rua, Gustav, o meu gato de estimação. Percebi que o negro felino fitava com seus imensos olhos amarelo-esverdeados, com negras pupilas dilatadas, o espaço vazio acima dele. Aproximei-me, agachei-me ao lado do animal e tentei identificar o que é que ele olhava tão fixamente. Confesso que por mais que insistisse, não consegui perceber absolutamente nada. Não obstante, Gustav permanecia olhando acima, como que para o céu, aparentemente direcionando sua visão para algum ponto sobre a residência de um de meus vizinhos. Em seguida, passou a girar seu pescoço rapidamente de um lado para outro, dando a entender que acompanhava algum movimento oculto e frenético. Seria algum inseto, algum morcego, alguma ave noturna que meus olhos humanos não conseguiam discernir por entre a escuridão?

Fixei intensamente minha visão, tentando obter o máximo de concordância com a direção do olhar do gato, mas prosseguia sem perceber nenhum tipo de movimentação na densa atmosfera da noite. Talvez o leitor considere muito esquisita essa minha insistência em desejar saber o que o gato olhava, porém, se soubesse e entendesse o meu estranho caráter, bem como meu estado de espírito naquele instante, a minha doentia fascinação por tudo o que é misterioso e desconhecido, mudaria rapidamente de opinião.

Estava, portanto, decidido a perceber, a ver a mesma coisa que Gustav. Este, de repente, levantou-se e disparou para o fundo do pátio de minha casa. Fui atrás do bichano. Lá, ele novamente sentou-se e manteve sua fixação em algum ponto sobre o telhado dos vizinhos do lado esquerdo. Sentei-me ao seu lado e também direcionei meu olhar ao aparente vazio em questão. No princípio, nada divisei, porém, conforme os minutos passavam, fui entrando lentamente em uma espécie de letargia, mantendo, no entanto, minha consciência direcionada ao espaço noturno sobre a casa dos vizinhos. Minha concentração intensificava-se mais e mais, a um nível aterrador eu diria, a um nível de suprema perturbação psíquica... Iniciei a ser invadido por uma sensação de aflita expectativa, por um inexplicável medo do desconhecido, todavia, era uma sensação deleitosa ao mesmo tempo, ou seja, sentir medo causava um imenso prazer em minhas emoções anormais.

Enquanto permanecia naquele estranho estado, acompanhado por meu amigo gato, em uma terrível concentração, percebi que as trevas noturnas sobre a casa dos vizinhos começavam a apresentar certas luminosidades como raios que tenuemente desciam e subiam aos céus. Aos poucos, aumentou o diâmetro daqueles raios, formando então algo como colunas de uma luz esbranquiçada e cintilante que se intensificava cada vez mais. Acredito que estava visualizando um intercâmbio de determinado tipo de energia espiritual entre a casa, ou entre os moradores dela, e certa região ou dimensão ignota do cosmos. Em seguida, ao lado das fosforescentes colunas de luz, vislumbrei o canhestro surgimento de vórtices igualmente luminosos, redemoinhos energéticos que cresciam em vários pontos da escuridão da noite sobre aquela residência, até atingir a circunferência aproximada de uma bola de futebol. Logo, naqueles vórtices, identifiquei uma espécie de claridade diversa, de pequenas descargas elétricas que os atravessavam incessantemente, como algum campo energético.

Para meu maior assombro, verifiquei que as colunas luminosas e os vórtices elétricos também principiaram a surgir na noite sobre outras casas das imediações, inclusive na minha. Em menos de uma hora, creio, em uma noção puramente psicológica, eu contemplava extático uma constelação, não de estrelas, mas de enigmáticos redemoinhos de uma eletricidade perturbadora e de um sem-número de colunas etéreas que subiam e desciam em uma estarrecedora e incompreensível comunicação cósmica.

Entretanto, poderia ainda dizer que sentia real prazer em contemplar aquela mirífica visão, o que iniciou a deixar de ocorrer, quando vi alguma coisa, ou algumas coisas, saírem de dentro das casas, pelo telhado. Eram almas, creio eu, as almas dos meus vizinhos adormecidos. Vi seus espectros, idênticos aos físicos, flutuarem na noite, ligados, acredito, pelo famoso Cordão de Prata, que se alongava em infinita elasticidade etérea, pois vi uma fantástica linha branca e brilhante conectada aos espíritos de meus vizinhos.

Logo, após saírem das residências, algumas almas desapareceram nas colunas de luz, e outras penetraram em alguns daqueles vórtices assombrosos, igualmente desaparecendo. Outras almas ainda, a maioria delas aliás, desciam no escuro da noite. Olhando com mais atenção, identifiquei abaixo, próximo ao solo, uma outra categoria de redemoinhos elétricos, com descargas de uma eletricidade de um rubro-amarelo mórbido, lugubremente doentia. Nesses sinistros vórtices penetrou a maioria dos espíritos que eu havia avistado. Aflito pela maligna sensação que aqueles vórtices de luz sangüínea tinham-me suscitado, refletia no destino que aquelas almas poderiam ter tomado.

Meu singular assombro tornava-se mais denso a cada minuto que transcorria, e creio ter chegado ao ápice quando vi aquele ser negro sair de dentro de um dos vórtices bem acima da casa de meus vizinhos do lado esquerdo. Não era, no entanto, um dos vórtices sanguinolentos, mas um dos luminosos de correntes elétricas fosforescentes. O ser que dele surgiu assemelhava-se a um anjo, a um anjo sombrio porém, possuindo imensas asas negras e ameaçadoras. Seu rosto, de traços belos e graves, esbranquiçado e com grandes olhos negros, tinha algo de feminino e de melancólico, transmitindo uma profunda e triste serenidade, uma impassibilidade inalterável que assustava e suscitava um profundo respeito. Havia algo de implacável, de inexorável naqueles fundos e gélidos olhos... O ser pairou pela noite adejando suas longas e arrepiantes asas. Trazia em sua mão direita um instrumento que não pude identificar. Em seguida, atravessando etereamente o telhado da casa dos vizinhos, desapareceu, entrando em alguma peça da residência.

Instantes depois, o sombrio ser reapareceu nos ares noturnos, agora acompanhado por alguma alma. Percebi que esta era a senhora Valquíria, mãe de meu vizinho, uma senhora já idosa e que há vários meses sofria de uma incurável enfermidade. Fixando ainda mais minha atenção, verifiquei que a senhora não apresentava o Cordão de Prata como os outros espíritos que vira. Concluí, portanto, que estava morta. Então pude identificar o objeto que o anjo negro portava: era uma foice. Aquele ser sombrio era a Morte. Ambos entraram em um dos vórtices fosforescentes e desapareceram de minha visão.

Depois disso, um verdadeiro medo apossou-se de meu coração. Por instantes, ainda mais uma vez, refleti sobre qual seria o destino de todas aquelas almas que penetravam ou nos vórtices luminosos ou nos redemoinhos sanguinolentos, ou ainda nas colunas de luz que ascendiam e desciam irrefreavelmente entre o céu e a terra.

Foi nesse momento que pressenti algo de estranho, ainda mais estranho, ao meu redor... algo como uma presença muito próxima... Mas uma presença profundamente consoladora e reconfortante, irradiante de um sentimento... maternal! O medo que de mim se apossara foi gradativamente se dispersando, mas não ousava olhar para o lado, estando certo que ao fazê-lo enxergaria algo absolutamente insólito... Foi então que uma terna e delicada voz celestial soou suave em meus ouvidos, dizendo:

- Por que, meu filho, tens medo de olhar para tua Mãe, não tua mãe física, mas a Mãe da tua Alma, que está e estará eternamente contigo? Tenho infinidades de maravilhas para dizer-te e mostrar-te, mas, por enquanto, deixo somente esta verdade, que sei que saberás compreender além da mente: não esqueces que um dia deverás morrer.

Nisso, a voz calou-se, e senti que a feminina e carinhosa presença desapareceu, não sem antes deixar-me em um profundo estado de paz e serenidade que jamais olvidei... E assim, abandonei o estado letárgico, voltando à vigília convencional. Não mais divisava nem vórtices nem colunas luminosas. Gustav já não estava o meu lado. Fui, então, deitar-me. Adormeci refletindo e sonhando com aquele ser maternal e com as coisas que ela teria a mostrar-me... compreendendo sua mensagem... deveria ir até Ela... E quantos segredos e mistérios, naquele preciso instante, pululavam na noite sobre as casas de todo o planeta...

17 setembro 2007

Chegará o Dia

sentirei a luz da morte
a tensão das asas do sonho
a aurora sob relâmpagos
o ocaso de meu sol medonho
todo o terrível prestes a vir
a beijar a voar a dormir

estrelas do longe em vapores-saudade
sussurros de passos nos sinos noturnos

anjos em sombras da mata
lua aos cabelos na água
noite profunda em teu pranto
vôo-desejo! amor e espanto!
veneno de flores bebendo nos ares
catástrofe e febre em alma-magia...

enfim
antes do fim
dos dias que desfolho
chegará o dia
em que sentirei tudo
o que há nos teus olhos

Poema Agradável para Vencer Concursos

Eu sou feliz.
blá blá blá
blá blá blá...
(blá blá blá positivo)

Tu és feliz.
blá blá blá
blá blá blá...
(blá blá blá certinho)

Ele é feliz.
blá blá blá
blá blá blá...
blá blá blá saudável)

Então
vamos unir nossos blablablás
e fazer o mundo inteiro FELIZ!!!

30 agosto 2007

A Misteriosa Aproximação

"Furioso delírio se apossava de todos os humanos, e, com os braços rigidamente estendidos para os céus ameaçadores, todos tremiam e bradavam desesperadamente... E assim tudo se acabou."

Edgar Allan Poe

O maior erro da humanidade é o esquecimento. Esquecemos o que há de mais vital, tudo se perde nos vendavais do tempo. Como escreveu certo sábio, “Não aprendemos as lições da vida nem a canhonaços”. E se esquecemos os “canhonaços”, como lembrar de discretos sinais que parecem nos dizer tão pouco, leves insinuações do desconhecido? No entanto, tais sinais, que falando pouco dizem muito, estão constantemente presentes em nossas vidas, e, muitas vezes, nem os percebemos. E quando o fizemos, logo são completamente deixados de lado, como se por serem tão “pequenos” e passageiros não merecessem maior atenção. Assim é o ser humano, sempre desprezando o que é sutil... Mas... a que preço?

Se dispensássemos a devida atenção aos sinais, compreenderíamos, por exemplo, o porquê de na mitologia nórdica o deus supremo Wotan ter necessitado morrer enforcado em uma árvore sagrada para adquirir conhecimento, e, no cristianismo, Cristo ter necessitado morrer crucificado para finalizar sua doutrina. É claro que tais sinais são profundamente simbólicos. E com a misteriosa Aproximação não foi diferente; também se manifestou a princípio com sutis sinais bem pouco reconhecíveis, sinais enigmaticamente simbólicos.

No princípio surgiu uma estrela. Uma estrela nos céus do hemisfério sul que brilhava um pouco mais que o convencional, qualquer indivíduo que olhasse para os céus no começo da noite já perceberia o intenso e intrigante cintilar daquele incomum eastro. Porém, naturalmente, ninguém deu atenção ao fato, e tudo foi considerado como absolutamente normal. É claro que este não foi o sinal único que funestamente prenunciara a devastadora Aproximação, muitos outros ocorreram, todos igualmente imperceptíveis para a quase totalidade da humanidade, mas creio ser desnecessário mencioná-los agora.

O certo é que conforme a Aproximação se concretizava, lentamente, imensas tragédias, catástrofes, desastres, fossem eles naturais ou provocados pelo homem, foram se desencadeando, em um ritmo mais e mais acelerado. Até que em certo dia extremamente aziago para a raça humana, Ele foi visto pela primeira vez, ao longe, como um outro sol que surgia no horizonte carregado de maus-presságios. E então, todos os engodos das autoridades e dos senhores responsáveis por nossa mal fadada ciência caíram por terra. Restou tão-somente a trágica realidade dos fatos, e a Aproximação daquilo que brilhava sinistramente diante dos olhos estupefatos da humanidade doente.

A partir desse instante, o medo, o pânico, o desespero absoluto dominaram os seres humanos, compreendendo-se definitivamente que a situação era muito mais grave do que se poderia imaginar. Pior do que isso, era catastroficamente inexplicável.

À medida que a misteriosa Aproximação tornava-se mais e mais visível, gigante, ameaçadora, em todos os cantos da Terra procurava-se encontrar respostas e possíveis soluções para o que estava ocorrendo, porém, não se dava um passo a frente, talvez, só para trás. Pensou-se, por exemplo, em utilizar-se poderosíssimos artefatos nucleares para evitar-se a tragédia maior, o que se revelou um imensurável desastre. Enfim, só o que se pode afirmar é que todos os intentos e planos e invectivas do homem para se evitar o inevitável resultaram em trovejantes fracassos.

Os anos foram passando de forma arrastada e lúgubre, enquanto a humanidade afundava-se em um estado caótico de verdadeiro horror. Gradativamente, os homens foram sucumbindo em meio à mais atroz loucura coletiva já presenciada, em um desespero de se arrancar os cabelos. Descrever aqui todo o horror vivenciado naqueles dias seria algo impossível... e absurdamente cruel.

Só o que posso dizer é que a intensificação de todas as espécies de catástrofes, as mais inimagináveis, as mais absurdas, as mais devastadoras desencadearam-se na exata proporção matemática da sinistra Aproximação. Na dantesca ignorância sobre o que estava ocorrendo, compreenderam então os homens que todas as suas certezas sobre suas próprias existências não tinham mais o menor sentido, tudo se desmoronou de uma hora para outra. E a humanidade engolia em seco sua ilusória segurança da estéril racionalidade.

E o terror cósmico da Aproximação concretizou-se de forma canhestramente fantástica. O pavor reinava absoluto para onde quer que se olhasse, já que nosso céu já não era nosso céu, era outro, um monstro tenebroso. Ali estava Ele, inaceitável imensidão alienígena, em sua órbita elíptica gigantesca, em sua verdade descomunal e cíclica. Na sua esmagadora opressão atmosférica e gravitacional, todo o sangue da Terra voou pelos ares, inflamou-se ao extremo a alma planetária, e sua febre de doente terminal derramou-se como lava sobre seus filhos em negra decadência.

Era a Aproximação do Terror inominado. E toda a abóbada celeste incendiava-se em um fulvo-escarlate de um vivo e marcial vermelho enegrecido.

Mas por agora... sou um louco que não devo ser levado a sério.

18 agosto 2007

Prefiro a Morte

se a vida
é esse amontoar-se de coisas
esse arrastar-se de moedas
esse comprar-se de tudo...

se a vida
pra se dizer que se vive
é se acabar dia e noite
ao se enfurnar num emprego
pra se enganar a si mesmo
inflando a conta de cifras...

se a vida
é ter "sucesso na vida"
sem ter sentido pra nada
pra vomitar mil estresses
se viajando pra praia
se é disfarçar a miséria
de não ter nada na alma
só consumindo e comendo
e no final em marasmo
entendiar-se de tudo...

se é pôr uns filhos no mundo
pra se aguardar a desgraça
e não ter tempo pra nada
se é ser robô programado
a ser igual sempre a todos
sem questionar o que é "certo"
e sem sonhar como um louco...

se é não parar por um pássaro
se é não fitar-se uma flor
se é não sentir-se um poema
se é não olhar-se pra o céu
se é não chorar uma música
não se perder por amor...

se a vida é viver como morto
e não zombar-se da sorte...
perdoa, sensato leitor...
mas eu prefiro a morte.

12 agosto 2007

Trecho de um Texto Ocultista de Fernando Pessoa

"...Creio na existência de mundos superiores ao nosso e de habitantes desses mundos, em experiências de diversos graus de espiritualidade, subutilizando-se até chegar a um Ente Supremo, que presumivelmente criou este mundo. Pode ser que haja outros Entes, igualmente Supremos, que hajam criado outros universos, e que esses universos coexistam com o nosso, interpenetradamente ou não..."

06 agosto 2007

Cátástrofe (um poema à minha cidade)

na minha cidade
não há catástrofes:

não têm tornados
não vêm ciclones
nem furacões
não têm vulcões
nem terremotos
nem tsunamis
nem bomba atômica
enfim...

é que estão todas elas

Todas!

devastando meu peito
dentro de mim

29 julho 2007

Comentário do escritor Moacyr Ferraz

Este é um comentário deixado pelo escritor Moacyr Ferraz no site Recanto das Letras sobre o conto "O Fim Inaceitável de Cada um de Nós" (aqui postado abaixo):

"Caro Alessandro. Mais uma vez você dignifica seu posto de um dos maiores escritores do Recanto das Letras. Seu estilo de escrita, na forma de crônica em primera pessoa, é um dos mais complexos e difíceis. Consequentemente, o que menos resulta em bons contos. Mas seu talento consegue fazer de suas palavras obras de arte literária. Somente um tolo não conseguiria notar a profundidade existente em suas linhas; elas traduzem uma angústia que só um futuro grande mestre é capaz de imprimir. Parabéns por mais uma pérola!"

24 julho 2007

Poemas do Término e Contos do Fim XXV

Foi lançado dia 20/07/07 o nº25 do zine literário Poemas do Término e Contos do Fim, contendo o conto "A Peste do Beijo" e os poemas "Lobo e Crepúsculo", "Ao Sono", "Soneto Ultra-romântico", "Ser", "Poema ao Frio" e "13 Versos". Em Santiago, o zine pode ser encontrado nos seguintes pontos: locadora Fox Vídeo, Locadora Classic Vídeo, Ponto Cópias, Biblioteca Municipal e Biblioteca da URI. Também é distribuído nas seguintes cidades: Santa Maria/RS, Santo Ângelo/RS, Curitiba/PR, São Gonçalo/RJ, Salvador/BA e Goina/PE. Por correio, pode ser enviado para qualquer ponto do Brasil ou exterior. O zine é gratuito.

Extraterrestres na Pintura Antiga II


Na ampliação da pintura abaixo pode-se notar que o objeto faz parte do contexto da tela. Observe a luminosidade representada pelo autor. Note também que uma pessoa observa o objeto cobrindo o rosto com as mãos, devido à luminosidade do mesmo. Ao lado da testemunha existe um cachorro em posição de alerta. Clique no título deste post para acessar o link e conferir esta tela e várias outras muito intrigantes, no mínimo.

Extraterrestres na Pintura Antiga


Existem um sem-número de pinturas antigas e arqueológicas onde ocorrem imagens de objetos voadores não-identificáveis. Uma delas é esta, "A Madonna e o Menino" (séc. XV)

Esta pintura encontra-se no Palazzo Vecchio, em Florença, Itália. A autoria deste quadro é atribuída a Fillippo Lippi. Note o estranho objeto acima do ombro de Nossa Senhora.

20 julho 2007

Ainda...

não me podem acabar...

que se macularem minha vida
com todos os erros do mundo
ainda terei o meu sangue...

que se envenenarem minha sina
com todas as sortes humanas
ainda terei minha luta...

que se sepultarem minhas obras
com todos os risos dos séculos
ainda terei minha força...

que se derramarem meu sangue
com todas as mortes da vida
ainda terei minha alma...

13 julho 2007

O Juízo Final - Hieronymus Bosch


Sombrios Versos à Luz

imortal
luz do cosmos
luz dos fogos

luz dos olhos
de quem ama
luz de chama

luz astral
luz de Goethe
quando morre

que me escorre
à luz-lágrima
de quem sonha

à luz-selvas
entre danças
e que salvas

luz em valsas
borboletas
e mães-d’águas

vaga-lumes
nessas almas
vale em noite

luz da lua
em fantasmas
que flutua

mais ao alto
luz de raios
raio em astros

sol de estrela
luz de arcanjo
com clarim

luz-além
luz vermelha...

Luz do Fim.