31 agosto 2020

"Teu Fúnebre Clarão"

já quase nada
nada a ser dito.
a quem?
a homens que não leem
nem as cartas do seu destino
se (r)indo em seu cagar
digo, em seu andar
infinito.

a homens que não lavam
digo,  que não leem
nem as palmas das suas mãos 
deixar uma palavra que fique?
ainda que desse 
não dá mais tempo
para piquenique

não há preço que pague
escrever para ninguém 
dizer como se não houvesse
olhar como se não soubesse
"teu fúnebre clarão que a noite alaga"

e eu já (a)paguei a tudo:
a minha tempestade
já está relâm...
paga.

28 agosto 2020

Nem Sinal

em breve mas nem o longe
só sangue no horizonte
em breve só o sempre
que será ontem
silêncio esgotado
no esgoto de uma fonte.
em breve mas nem o leve
só o calo das cordas
de um canto de ave
calado num eterno vago
de gelo de neve
pássaro passado
desmanche
de rio manchado
por entre óleos (machados)
no sorriso em corte
por entre olhos e braços
em breve mas nem rastro.
e da árvore que te arde
despencada a pancadas
de baques entre abismos
folha por folha abalada
em breve mas nem risco
mas nem riso
em breve mas nem cisco.
em breve mas nem nada 
e que nos leve afinal. 
só eterno desfeito
e a cova no peito
feita a pá e a enxada.
e em breve 
mas nem sinal.

24 agosto 2020

Medo de Acordar

dormi com medo de acordar 

medo de acordar e tudo ter acabado
medo de acordar e nada ter acabado
dormi com medo
de ter medo de acordar
com medo de ter que acordar
com a corda no pescoço
dormi com medo de acordar
e ser só osso
de acordar e ser só isso
de dormir até o fim
de sonhar cair num poço
e de acordar e ser assim
de sonhar com coisas ruins
e acordar e elas são
de sonhar com coisas belas
e acordar e não serão
e ninguém aqui comigo
dormi com medo
de acordar e estar morto
de acordar e estar vivo

21 agosto 2020

Nós, estes Montes

a humanidade tem problemas
aos montes:
um deles é dar um jeito 
nos montes de gente
e amontoá-los de alguma forma:

prédios cidades favelas
lojas templos janelas
ruas praças e telas
e ali os montes de gente
enfiados nos montes
que amontoaram
(informações inúteis
quinquilharias fúteis
ilusões risíveis)

entre montes de moedas 
e sacos de lixos 
vão os montes humanos
governados  por montes 
e olham abismados os longes 
para o que restou dos mortos montes
devastados por nós 
estes montes 
de merda

19 agosto 2020

O Presidente mais Egoísta da História

Bolsonaro é o presidente mais egoísta da história brasileira.  Nunca faz nada pelo povo,  olha somente para sua própria bunda. Provas? 

Vamos começar pelo auxílio emergencial,  que de início ele não queria pagar. Depois, queria pagar só 200 reais, mas foi derrotado pela oposição e engoliu, puto da cara e sempre reclamando, os 600. Mas foi aí que percebeu que o povo estava gostando dos 600 reais (algo óbvio, para uma população que em parte mal consegue se alimentar)  e que isso poderia ser ótimo para sua reeleição.  Começou a espalhar a Fake News de que o auxílio de 600 é obra do seu governo e quer, agora, que o Paulo Guedes se vire para achar dinheiro que continue  bancando o auxílio. 

Então, o Guedes quer, por exemplo, taxar livros e vender estatais e riquezas nacionais a preço de banana para conseguir esse dinheiro, porque, dos ricos e privilegiados, Bolsonaro e sua corja nunca tiram nada,  só dão. 

Bolsonaro sempre age em interesse próprio, não tem uma gota de grandeza ou humanidade. No seu egoísmo estúpido, tira verbas das áreas de onde ele não espera votos ( da Educação,  da Ciência,  da Cultura,  das Artes, do Meio Ambiente, da Saúde) para dar para militares,  latifundiários, mineração e determinados grupos empresariais. 

E o Brasil que se foda.

17 agosto 2020

Temor da Morte

há os que temem a morte

porque não se conhecem.

há os que temem a morte

porque se conhecem.

há os que temem a morte

porque nada conhecem.

há os que temem a morte

porque não conhecem

que já estão mortos.

há os que temem a morte

porque só conhecem da vida

aquilo que morre.


dizem que as pessoas temem a morte

porque temem o desconhecido.

não. temem a morte porque temem a dor.

ninguém sabe se vai sofrer ou não 

depois que morrer.

esse é o grande medo.

temer o desconhecido 

é temer a possibilidade da dor.

e todo mundo teme essa possibilidade.

então no fundo 

não é nem a morte nem o desconhecido

o que se teme. 

o que se teme é a dor.

13 agosto 2020

Miniconto Metrificado

eu sinto o cheiro daquela voz de almas
entre palavras que não mais existem:
melhor dizer o que não tem sentido
e ouvir o sangue de esquecidos idos.


ali morri como se fosse um vago
e do sedento eu te acenei meus fins:
estava ao nunca sempre lá cantando
pelos presságios de um planeta doente.


então me disse o que de agora é morto
que tudo foi no que cantei sem nada.
fiz uma história em doze versos-febre:
fica pra sempre só o que não se entende.

10 agosto 2020

Bolsonaro, um Filho da Puta

 Ser FILHO DA PUTA  é isto:

ANTES: "O Brasil nunca vai chegar a 100 mil mortes por Covid,  vai ter no máximo umas 800, sigam suas vidas  normalmente,  pra que quarentena? Só idosos tem que ficar em casa, pra que fechar escolas?  Criança não pega, distanciamento social é bobagem, perder emprego é pior, blábláblá."

DEPOIS: " Eu não tenho culpa das 100 mil mortes, ninguém vai me responsabilizar, a culpa é dos governadores, é dos prefeitos,  é do STF, eu não tenho responsabilidade nenhuma.  Morreram? E daí?  Que a vida siga normal, eu não podia fazer nada, todo mundo morre, blábláblá."

Isso  é ser um filho da puta no grau mais elevado, categoria máxima de ser bosta.

06 agosto 2020

Não Fazer Nada da Vida

quando eles te perguntam:
"O que você faz da vida?"
eles não querem saber o que tu fazes da vida 
eles nem sabem de que vida falam 
e nem o que é vida
eles só querem saber no que tu trabalhas
e nem tanto pelo trabalho em si 
mas por quanto de dinheiro tu ganhas
e por qual a importância que tu tens 
e não tanto pela importância em si
mas pelo importância que te acham como tendo 

quando eles te perguntam: 
"O que você faz da vida?"
tu poderias (por que não?) responder: 
eu leio romances
eu escuto música 
eu falo com animais 
eu caminho pelos campos 
eu toco violão 
eu cuido do quintal 
eu escrevo poemas
eu assisto a filmes 
eu descubro sobre coisas
eu converso com amigos
eu procuro mistérios 
eu viajo
eu sonho
eu amo
(...)

se tu responderes assim
eles dirão que tu és um vagabundo 
e que não fazes nada da vida

mas são eles que não fazem nada da vida.

04 agosto 2020

Águia Estilhaçada

olho para a humanidade e fico. 
para as pessoas que passam e não. 
vão como se fossem vãos 
em vão pelo que nunca há de ser 
que existem sem ver ou ir 
que não hão de se alcançarem. 

tudo aquilo que se gera e perde. 
águia estilhaçada ao chão. 
imenso do que foi sentido 
em que há sempre um mas ainda mais imenso 
que dessente a tudo. 

emissões de pensamentos que se deixaram. 
galáxias de possibilidades desfragmentadas. 
luz de atrações desmagnetizadas. 
altos desígnios revogados. 
livro escrito nunca iniciado. 
páginas de um vasto universo em branco. 
o latente de um vazio que quase 
mas não. 

sei que fracassei: 
meu poema não foi. 
melhor assim 
a humanidade também 
não atingiu o seu fim.