28 agosto 2015

"Em nada me risquei do rol dos ignorantes." Goethe

Johann Wolfgang Von Goethe (1749 - 1832), cujo aniversário se comemora hoje, foi o maior gênio da literatura alemã, e um dos maiores da literatura universal, o grande precursor do Romantismo. Em sua obra máxima, Faust (Fausto), um dos pontos mais altos da arte, expressou praticamente todas as questões essenciais que assombram a humanidade, cogitou sobre tudo,  e expôs como raros o drama da eterna busca do homem pelo conhecimento. 

Mas o que é o conhecimento? É isso que Goethe, dramaticamente, questiona. É acumular leituras sobre leituras, investigar todas as coisas pelo alcance das  "lentes" da ciências ou o Conhecimento vai ainda muito além? O texto abaixo, extraído do quadro II, Cena I do 1º Fausto (pois há o 2º, além do chamado "Fausto Zero", uma espécie de ensaio para a obra), apresenta-nos o trágico dilema.

Fausto I - Quadro II - Cena I (Trecho)

Ao cabo de escrutar com o mais ansioso estudo
filosofia, e foro, e medicina, e tudo
até a teologia... encontro-me qual dantes;
em nada me risquei do rol dos ignorantes.
Mestre em artes me chamo; inculco-me Doutor;
e em dez anos vai já que, intrépido impostor,
aí trago em roda viva um bando de crendeiros,
meus alunos... de nada, e ignaros verdadeiros.
O que só liquidei depois de tanta lida,
foi que a humana inciência é lei nunca infringida.
Que frenesi! Sei mais, sei mais, isso é verdade,
do que toda essa récua inchada de vaidade:
lentes e bacharéis, padres e escrevedores.
Já me não fazem mossa escrúpulos, terrores
de diabos e inferno, atribulados sonhos
e martírio sem fim dos ânimos bisonhos.

Mas, com te suplantar, fatal credulidade,
que bens reais lucrei? Gozo eu felicidade?
Ah! nem a de iludir-me e crer-me sábio. Sei
que finjo espalhar luz, e nunca a espalharei
que dos maus faça bons, ou torne os bons melhores;
antes faço os bons maus, e os maus inda piores.
Lucro, sequer, eu próprio? Ambiciono opulência,
e vivo pobre, quase à beira da indigência.
Cobiço distinguir-me, enobrecer-me, e vou-me
com a vil plebe confuso, à espera em vão de um nome.
E chama-se isto vida! Os próprios cães da rua
não quereriam dar em troco desta a sua.

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