28 fevereiro 2014

que sonho que eu sou quando eu for-te

que sonho que eu sou quando eu for-te
no que eu deixei-me em que parte
se tanto eu partia em nos ver-te...

nem chuva não cai mais dos mares

não tenho onde é que vou por-me
ou deixar-te a quem não achar-me
se tanto vi o céu não mais ser-me...

nem lago sai mais dos cantares

a rosa pairou-me em horror-te
beijá-la é o dever-me de arte
se tanto li o som do que verte...

nem sangue sai mais dos olhares

que sonho que eu sou quando há mor-te
no que eu deixei-me em que amarte...

26 fevereiro 2014

Sobre o Fanatismo

I

fanatismo
é observar um galho
julgando ser a árvore
e querer que o galho
seja a árvore
em definitivo

II

todo homem se suicida:
seja em corpo ou mente
em psique ou alma
de tal ou qual forma
em maior ou menor grau
em tormento ou na paz...

fanatismo
é suicidar-se
jurando a todos e a si
que não o faz

III

fanático
é quem quer fazer
com que o seu eu
se torne o meu


24 fevereiro 2014

Soneto de Retorno

fazer voltar tudo o que hoje é antigo
e que surja a alma destas cinzas brasas
das cinzas brasas pelos campos trigos
te trago águias com amor nas asas

águias de asas altas do que te digo
e que eu diga sonho entre as tardes claras
nas tardes claras ter tua mão comigo
por entre as eras das sublimes sagas

sublimes sagas do que foi distante
de um mundo em ouro por extintas lâmpadas
e agora vamos pelos céus avantes

nos céus avantes com estas notas tântricas
somos essências das eternas fontes
e um vinho em paz nas tuas íris límpidas

*Dedicado a Patrícia Almeida

23 fevereiro 2014

Uma Advertência de Satã

As estrofes abaixo são do poema  "O Imprevisto" que está incluído na edição completa das poesias do grande gênio maldito, Charles Baudelaire.  Há nos próximos versos uma severa advertência de Satã. Ela começa no trecho : "Haveis à regra obedecido..." Parece que serve para muitos, inclusive para algumas pessoas mui religiosas:

'E depois surge Alguém, por todos renegado
E que lhe diz, mordaz e altivo: "Haveis à regra
Obedecido e em meu cibório comungado
Na jubilosa Missa negra?

Cada um de vós no coração fez-me um altar;
Beijastes em segredo o meu traseiro imundo!
Escutai de Satã a gargalhada no ar,
Imensa e feia como o mundo!

Supusestes então, hipócritas surpresos,
Que se zomba do mestre e a ele se é infiel,
Ou que vos cabe a recompensa de dois pesos,
Tornar-se rico e ir para o Céu?'

Charles Baudelaire

21 fevereiro 2014

Nada a (me) Declarar*

o que há
no jornal de hoje que leio
( e já é ido
esquecido
como quem não foi escolhido
em um sorteio)
é o nada de amanhã
inútil fato fatídico:

o que é já foi
e o que vem
(como acontecimento)
já nasce sendo passado...
e nada restará do teu lado

tu, humanidade do agora
(és pior ou sempre a mesma?)
que observo
(como quem vê passar uma lesma)
vais me dizer o quê?

da filosofia uma oferta?
(cadáveres de boca-aberta)
esperanças de ilusões aladas?
(ridículos finais de piadas)
ou políticas das altas esferas?
(têm mais a me dizer as cadelas)

lá vaga o teu nada
(-adiantar)
nadando na baba
dos sapos dos sábios...
e o que eu farei
com tanta riso estúpido
derramado
do furúnculo
dos lábios?

aqui neste planeta exangue
(tu bem o sabes)
o que importa é o Sangue...

*Poema reelaborado e republicado.


19 fevereiro 2014

Os Aduladores de São Yago*

torpes
querem todos
chegar ao topo
dos montes de nadas
castelos de cartas
inflados de ar
e de marmeladas

tortos
mais máscaras do que rostos
vão vendendo seus ânus
a preços mais baixos
do que os dos capachos
em que esfregam a merda
dos sapatos
seus cagados amos

raça
de duas caras
escancaradas
de farsa e trapaça
sorrisos de aparência
gelatina na consistência
gotejando baba
a ostentar suas gordas carcaças
e a levantar as saias
abaixando as calças

línguas largas e gastas
lacaias
de lambedores de botas
e bostas
com a espinha curvada
e com sacos nas costas...

mas as espadas e as nuvens
já estão postas
pra a tempestade
de chuva de facas
e vento de pontas

*Referência a Iago, personagem da peça Otelo, de Shakespeare, símbolo do homem falso e hipócrita.

17 fevereiro 2014

Música Infernal ou Apocalíptica escrita em nádegas numa obra de Bosch?


Quem acompanha o blog sabe o quanto sou fã de Hieronymus Bosch, um dos maiores gênios da pintura de todos os tempos, cuja visão espantosamente adiantada previu, com CINCO SÉCULOS de antecedência, as loucuras, o caos,o  sonho e o pesadelo do Surrealismo. Tanto que no poema que postei anteriormente, está o acompanhando uma pintura do gênio holandês.

Pois mais genial ainda se torna Bosch quando ouvimos uma música cuja partitura ele deixou estampada em um detalhe que muitas vezes passa despercebido no "Inferno" do seu Trítico "O Jardim das Delícias", pintado há mais de 500 anos. Nas nádegas de um suposto condenado, está pintada a partitura, com notações musicais da época, semelhantes ao do canto gregoriano. Acompanhe nos quadros o detalhe da partitura e um detalhe maior da cena do "Inferno" de Bosch. 

Pois uma estudante universitária americana, conhecida apenas como Amélia, tentou executar a música. Disse a estudante: "Eu decidi transcrevê-la em notação moderna, supondo que a segunda linha escrita é em C (Dó), como era comum para os cantos desta época". 


Aqui neste site, que é da própria estudante, a música pode ser ouvida. Será que corresponde realmente ao que tentou deixar Bosch? Por que aquela partitura foi gravada nas nádegas de um condenado? Perceba no quadro maior que há um livro de partituras aberto bem próximo ao condenado. Provavelmente, nunca teremos essas respostas. Para isso temos a imaginação e a intuição. 

16 fevereiro 2014

Soneto à Vitória do Caos



não, agora que soam tempos outros
eu falarei como te sendo o ausente
ou um nada que nem sequer se sente
um vazio pelas mentes dos doutos

pesteado bicho pelos campos solto
pingo de sangue na vagina quente
a poeira de um meteoro incidente
um palavrão na boca de um louco

serás o assalto de uma velha astuta
gosto insentido de cianureto
os pedaços de carniça em disputa

a navalha que num fígado eu meto
saliva morna de um beijo de puta
e a tua presença entre meu soneto

(Na imagem, "O Julgamento Final", de Hieronymus Bosch).

15 fevereiro 2014

do Meu Nome Quando é Dito

o meu nome quando é dito
(e quem há dito
que meu nome alguma vez
bem dito?)
nunca se sonora como sendo
quando dizem que sou eu
não há-de
e ninguém a mim
me entendo

e quando dizem que não sou
se contradizem no assim mesmo
porque ao dizê-lo o não
meu ser já se foi
e já o é
sendo som

o meu nome é aquilo que não-trilho
um passo dado ao nada e ao brilho
um sim subindo pelo não dizendo

o meu nome é aquilo que nem-lendo
palavra nada
na última página
arrancada
de um livro de vento

o meu nome
é como se fosse o como...
e como
é que se pode vir do vago?...

do meu nome
não se diz nem do que é céu
mas acham que digo do meu eu
ou que sabem do que é meu...

ledo engano...
mas só quando advir o dano
advertir-se-ão que sou
mas...
só sendo
eu não-eu.

14 fevereiro 2014

Show de Preconceito e de Absurdos realizado pelo deputado Luiz Carlos Heinze, do PP

Não me estenderei muito nesta postagem, porque ficar escrevendo sobre determinados políticos definitivamente não vale a pena. Apenas digo que as declarações do deputado federal pelo PP não me impressionaram, pelo contrário, era o que eu esperava dele, e é o que eu espero de outros políticos de sua mesma linha (eu ia escrever "laia", mas desisti). 

O Heinze, tão amado por um setor da sociedade santiaguense, pelo menos foi sincero. Sem máscaras, sem hipocrisia, mostrou a cara. Está certo que foi num momento de êxtase emocional, cercado pelos seus correligionários e afins, em um daqueles discursos inflados, flatulentos e demagógicos típico de muitos políticos. E não foi só ele, obviamente, basta assistir ao vídeo, mas tente não vomitar. Ali também está o deputado pelo PMDB Alceu Moreira. Veja aqui.

O seu Heinze afirma: "...é ali que estão aninhados quilombolas, índios, gays, lésbicas, tudo o que não presta está ali aninhado..."  Seria hilário, não fosse patético. Inclusive o seu Heinze chega a aconselhar os produtores rurais a contratar segurança privada para defender sua propriedade. Defender do quê? Como? Quem tem que se defender é a sociedade de determinados "produtores" que querem mais e mais terras para encher de soja, transgênicos, agrotóxicos, devastando e poluindo.

Já escrevi aqui sobre a defesa enlouquecida do deputado Heinze pelo nefasto, destrutivo, vergonhoso Novo Código Florestal. Diz que defende os pequenos agricultores. Defende, isso sim, os campos e a renda dos grandes latifundiários. Não quer terra para os índios, por exemplo, porque quer mais terra para os grandes latifúndios, que possam ser compradas a preços irrisórios, e ter sua flora e fauna aniquiladas em nome dos gordos lucros do agronegócio. Só não vê quem não quer. E têm os que veem mas se fazem que não veem nada. 


13 fevereiro 2014

Silêncio

em breve
nem o longe
ao longe
no horizonte
em breve
o sempre
que será ontem
silêncio
esgotado
ao esgoto
de uma fonte

em breve
nem o leve
só o calo
das cordas
de um canto de ave
calado
num eterno vago
e nem neve
pássaro passado
desmanche
de rio
manchado
e um sorriso lasso
crasso
desmoronado
por entre olhos
de cuja luz
em breve
nem traço

e da árvore
que te arde
despencada
pancadas
de baques
entre abismo
folha por folha
abalada
entre os riscos
e os risos
de um cismo
em breve
nem cisco

em breve
nem nada
e que te leve
o desfeito

e a cova no peito
feita a pá e a enxada

10 fevereiro 2014

Paz Profunda

pois há uma Paz profunda
nos olhares das feras
há verdades silêncios
que se ocultam por eras
saber desde o que é vida
até mortes de estrelas
o olho fogo do tigre
em segredo nos vela
o olho gelo do lobo
só ao ser se revela...

pois há um Sangue profundo
nos olhares das feras
há tormentas noturnas
que parecem com trevas
alto abutre nas árvores
de sentinelas eternas
serpentes que veem almas
de quem passa por elas
é que há um Fim profundo
nos olhares das feras...

09 fevereiro 2014

Qual a Solução?

essas pessoas dizem:
não critique, aponte soluções
não seja pessimista, encontre soluções
não veja só defeitos, procure soluções...

mas o que essas pessoas
não sabem
é que “os que criticam”
os “pessimistas”
os que “só veem defeitos”
sabem as soluções:

a solução
está nessas pessoas mesmas
que pedem soluções
mas como essas pessoas
nunca se veem como solução
(porque já se acham
perfeitas solucionadas)
nunca haverá uma solução
porque essas pessoas são merda
e como não se reconhecem
como sendo merda
a merda continua
e não há solução

uma senhora certa vez
me disse:
“então aponte soluções”!
eu deveria lhe ter respondido:

“claro,
a solução
é a senhora mergulhar
a sua cara estúpida
dos cabelos até os tetos
numa solução de cianureto”

07 fevereiro 2014

Rinoceronte-Negro entra para a lista de animais EXTINTOS nos últimos 250 anos. E um poema de extintos.

O Rinoceronte-Negro-Ocidental, ou africano, foi oficialmente declarado extinto. Nenhum exemplar é visto desde 2006. Em 2000, havia 20 rinocerontes-negros vivendo na África. Há ainda o Rinoceronte-Negro-Oriental, ou asiático, ou Rinoceronte-de-Java, que viva na ilha de Java, na Indonésia, cujo risco de extinção é extremamente crítico, pois a população é estimada em apenas 50 animais. Anos atrás,  a outra espécie de rinoceronte asiático, o Rinoceronte-de-Sumatra, já havia sido extinta. Sobre a extinção do rinoceronte-negro, saiba mais aqui

E, por fim, há a espécie mais conhecida e mais comum, o Rinoceronte-Branco, para o qual os esforços de conservação têm dado alguns resultados, e sua população têm se mantido estável.  Porém a caça ilegal pelos chifres do animal, culpada pela extinção do Rinoceronte-Negro, continua dizimando a espécie.  Enfim, ao fim de tudo, a GANÂNCIA é o que vem aniquilando com a vida na Terra. A ganância nossa de cada dia. Que está ao nosso lado e dentro de nós, e nem nos damos conta. Ou se damos, não nos importamos nenhum pouco. Um dia faremos aquilo que um ganancioso tem horror de fazer: pagar o preço. Aliás, já começamos  a pagar...

A lista dos animais já EXTINTOS nos últimos 250 anos é bem maior do que muita gente pensa. Há pessoas que acreditam que o número de espécies recentemente extintas não passa de uma dúzia. A verdade é que só de mamíferos, o número chega a mais de 100 espécies e cerca de 30 subespécies extintas. De aves, o número é ainda maior: mais de 140 espécies e cerca de 70 subespécies já não existem mais em nosso planeta. Isso sem contar aquelas espécies que podem ter sido extintas sem nem terem sido catalogadas pela ciência. 

Segundo estudos recentes, 25%, ou 1/4 das espécies de mamíferos atuais do planeta corre sério risco de extinção. É muita coisa. E o pior é que os números estão aumentando. E rapidamente. A extinção em massa das espécies já se iniciou. 

Utilizando-me do nome de alguns dos animais já extintos, escrevi o poema abaixo:

Versos Inexistentes

Dodô
Emu-Negro
Foca-Monge
Asno-Sírio...

Leão-do-Atlas
Leão-do-Cabo
Zebra-Quagga
Ave-Elefante
Arau-Gigante
Íbis-Terrestre
Tigre-de-Bali
Tigre-do-Cáspio
Tigre-de-Java
Lobo-de-Honshu
Vaca-Marinha
Sapo-Dourado
Cervo-Schomburki

Gazela-Vermelha
Dugongo-de-Steller
Antílope-Azul
Raposa-das-Falklands...

Pombo-Passageiro
Lobo-da-Tasmânia...
Cabra-dos-Pirineus
Pato-do-Labrador
Jiboia-da-Ilha-Round
Rinoceronte-Negro...

Tartaruga-da-Ilha-Pinta
Lagarto-da-Ilha-de-Ratas
Wallaby-Rabo-de-Prego...

Pato-de-Cabeça-Rosa
Periquito-do-Paraíso
Bandicoot-do-Deserto
Rinoceronte-de-Sumatra
Arara-Vermelha-de-Cuba...

deixei 34 versos
inexistentes
e mais uns outros
de adeus:
quem sabe
amigos extintos
um dia o meu destino
beberá vinho tinto
na presença
dos teus...

05 fevereiro 2014

Informe

o homem
(que já não tem reforma)
para hipocrisiar sua miséria
e na tentativa desinformada
de impedir que as forças se formem
formou toda forma
de (de)formações:

desde edifícios-ratoeiras
para (sobre)viverem amontoados
até máquinas práticas
(patético.)
para se acomodarem no nada
de suas disformes fôrmas vazias

e pensa entender
aquilo que se forma
com suas fórmulas cálculos cossenos...

mas não se pode
impedir que a Tormenta se forme
e se pode
cada vez menos


03 fevereiro 2014

da Destruição

o que será
será quando o é deixar de ser
e ponto.
fazer-se tabula rasa
e brasa
da lavoura que deu em nada
e plantar do nada
a próxima lavra

já dizia Picasso
que criar é destruir no antes
limpar o terreno
para plantar-se um outro outro
que será pleno
quando houver
e quando ouvir
o que for som de adiantes

tempestade que varre o que é tarde
teu cheiro que som sem alarde
joga ao não o que já (outra) era

tempestade que é o vir do que espera...

a destruição é a mão do que há-de
e há de surgir uma outra
outrora de (human)idade