06 fevereiro 2013

De Sangue


E duas gotas de sangue.  Olhos avermelhados. À minha frente. Lago coagulado. Açouguento. Urubus gotejosos, dir-se-ia sujos de agoras, agourentos. Sempre fixos. Ou sentença ou sarcasmo. Provável os dois. Sentível, provável. Cheiro quente. De quando se sangra e sangue corre. Grasnar, galhar seco. Urubus rubros.

Ergo-me da grama derramada escarlate. Altos, nimbos laranja-estranho-decadente. Rúbido mórbido, com tendências ao negro. Trovão úmido sangue, como se inflamação nas veias. Sangrosas rosentas.

Tempestade e encharco-me, vermelho. Bafo dos urubus, mas não carniça, sangue morno. Mulher menstruada, talvez, ali morta. Cinco passos. Escorre pelas pernas. Brancas magras magas. Bafo morno. Horizontes e horizontes montes devastados avermelhados. Febres fulvas, vulvas. Férvidas fulgurações fúnebres desfiguradas. Marcha.

Melodia flauta distância. Pulsação abaixo, mas reverberante. Sangue visível epiderme, pele esfolada. Sangue lento. Chuva sanguínea externa-interna. Urubus revoados ordenham.  Hordas. Passadas compassadas. Pelas poças. Som pegajoso-viscoso do pisar-se lagos. Marcha e céu congestionado. Sanguíneo denso.

Hemorragias de ave, coração à mostra. Despencam pelos caminhos. Peito aberto de ave, semelhança Cristo.  Gatos no cio ciciando. Corações de aves gotejo dentes. Caninos. Carnívoros. Caça de tigres. Saliva lobos. Dentes trituradores. Sangue canto. Boca suja. Meus olhos avermelhados.

Metralhadoras.  Rajadas vento encarnado. Minhas mãos alvermelhadas. Um sol de apocalíptico. Febre escarlatina de olhares. Um sol será? Meus olhos congestionados. Um sol de cor-cardíaco? Sorrio. E duas gotas de sangue. Goteja gota gotejo canto do lábio. Sanguino lenta esperança.