30 agosto 2012

Existe Brahms


I

nossos intelectuais
estão certos
de que preveem o futuro
(...)
mas deveriam fazê-lo
acendendo
(antes)
uma vela
no (v)entre do escuro...

II

dizem
ter descoberto
a “partícula de Deus”
(o homem
procura a sabedoria
como se procurasse uma palha
em um palheiro
a esmo)
só o que lamento
é que nunca encontraram
a partícula de si mesmo

III

perguntam-me
qual afinal
a minha esperança...
ora, eu não escolho esperanças
eu espero o que vem...
não espero
por exemplo
que tu, ser humano
me ames.

fora isso...
existe Brahms

29 agosto 2012

Dia Nacional de Combate à Televisão

Hoje é o Dia Nacional de Combate ao Fumo. Ótimo. Mas por que que não existe também, por exemplo, o Dia de Combate à Coca-Cola, Dia de Combate aos Agrotóxicos, Dia de Combate aos Aditivos Químicos e, finalmente, o Dia de Combate à Televisão. Melhor fumo que televisão. Fumo faz mal para os pulmões. Televisão, faz mal para a cabeça. E, principalmente, para o que tem dentro dela. Transforma cérebros em merda.


E outra. Poderia existir também o Dia de Combate ao Funk, Dia de Combate ao Michel Teló, Dia de Combate ao Tchu e Tcha. Isso sim faz mal. Para a mente. Para a alma. Seja como for, de uma forma ou de outra, todos prejudicam a si mesmos, não é só fumando. Mas, na maioria das vezes, nem sabem. E nem querem saber. E a mídia não quer que saibam. E assim todos vivem felizes e contentes em sua ignorância e hipocrisia. 

Muitos irão pensar que estou fazendo campanha pró-fumo. Não estou. Estou fazendo campanha em prol da liberdade. Hoje, tiram nosso direito de fumar. Amanhã, será o de tomar as nossas próprias decisões. E depois, finalmente, tirarão o nosso direito de pensar por  nós próprios. Coisa que, dissimuladamente,  a televisão já o faz. 

28 agosto 2012

Soneto-Ocaso


derradeira derrocada das massas
pela invicta derrota do que humano
vontades que naufragam ano a ano
em vórtices vazados de não-taças

o infindo decair do que se faça
no em-vão irrevogável do não-plano
a esperança vencida pelo insano
nas vastas pradarias da desgraça

passo a passo de um algo que maldito
sobre as patas-serpentes de um cavalo
entre os olhos sedentos do inaudito...

a nulidade do ato de salvá-lo
dessangra entre vermelhos de infinito
e o Horror levanta a força do seu falo...

26 agosto 2012

Silêncio


em breve
nem o longe
ao longe
no horizonte
em breve
o sempre
que será ontem
silêncio esgotado
ao esgoto
de uma fonte

em breve
nem o leve
só o calo
de um canto de ave
calado
num eterno vago
de neve
pássaro passado
desmanche
de sorriso lasso
desmoronado
por entre olhos
de cuja luz
em breve
nem traço

e da árvore
que te arde
despencada
entre abismo
folha por folha
abalada
entre os riscos
do que cismo
em breve
nem cisco

em breve
nem nada
e que te leve
o desfeito

assim
como se fosse
o meu peito

25 agosto 2012

do Não Esperar


o que se planeja
não é o que vida:
vida
é o que não está nos planos

não esperar
é evitar que o vindo
venha abaixo do esperado

o mais belo
o mais fundo
o mais alto
é o que não nos pode ser dado

só espero pelo que não posso
que é o que não depende
do inútil do meu esforço

mas de um indefinido não pensado
paisagem em súbito na estrada
susto de inspiração
surgida do nada

como pode valer a pena
ser alcançado
o que já está ao alcance da mão?
a canção que mais nos comove
é aquela que canta
(em nosso íntimo)
o imenso de um não...

o que é então
que deve ser como deveria?
melhor é o que não se espera
que não se vê
e nem seria...
os prenúncios de estrelas
vêm apenas
durante a noite sombria...

23 agosto 2012

Três Considerações Antipáticas


I

ser poeta
é ser líder e único membro
de sua própria gangue
e preparar-se
para um banho
(entre palavras)
de sangue

II

um poema
além de segredos
é dar nos dedos
e tirar sarro:
é como soltar na cara
de quem não fuma
uma baforada de cigarro

III

o mais corajoso
dos soldados
é o que deserda
o mais corajoso
dos homens
é o que tem coragem
de mandar
tudo à merda

22 agosto 2012

Secas Devastam ao Redor do Planeta - E o que Será da Humanidade nas Próximas Décadas?

Já por diversas vezes afirmei aqui no blog (e também sugeri através de textos literários) que o aprofundamento da degradação ambiental de nosso planeta não é algo que ocorre através de uma sequência clara e sem interrupção, mas de maneira um tanto enganadora: em um ano, o planeta é assolado por incontáveis catástrofes naturais, que parecem indicar que o próximo ano será ainda pior. Porém ocorre que no ano seguinte a situação apresenta uma aparente amenização. Então, muitos, na ânsia de não culpar o homem, ou de acalentar uma ilusória esperança, aproveitam para afirmar que a situação não é tão grave como acusam os "alarmistas". Muitas doenças também evoluem assim. Após uma crise, surgem momentos de melhora, que são confundidos com cura, e o paciente não se preocupa em se tratar. Mas se passa um tempo, e os sintomas surgem mais intensos. Até que um dia o doente falece.

É assim que determinadas pessoas, inclusive estudiosos e cientistas, acreditam que não existe o Aquecimento Global, ou, se existe, não seria tão sério, e o ser humano não teria responsabilidade a respeito. No entanto, passados dois ou mais anos, as catástrofes naturais repetem-se de forma ainda mais severa e mais generalizada. E, discretamente, de maneira um tanto gradual, recordes negativos vão sendo sistematicamente batidos, e, de forma muitas vezes imperceptível, o planeta vai lentamente sendo consumido, vitimado pela inconsciência humana.

Sobre o assunto, vejamos o que está no jornal Correio do Povo deste último domingo, na seção da previsão do tempo:

"As secas marcam este ano de 2012 até agora no mundo com impactos econômicos mundiais que geram o temor de uma crise de alimentos global. O ano começou com a Inglaterra enfrentando sua pior estiagem desde 1976. O início de 2012 foi marcado ainda por grande seca no Cone Sul da América(...). Lavouras de milho e soja agora agonizam com a falta de chuva nos EUA, no que está sendo considerada uma das cinco piores secas em solo americano no último século. No México, a estiagem é descrita como a pior em 70 anos.  Seca agora também na Rússia, onde são revistas para baixo as projeções da safra de trigo. E na Índia, com monções insuficientes e danos ao arroz a ponto de rios inteiros terem secado no país. Espanha e Portugal também têm há meses déficit de precipitação e os últimos dias foram de graves incêndios na Ilhas Canárias."

Alguém poderia argumentar que em nenhum desses lugares a estiagem, apesar de intensíssima, está sendo a pior da história. O que significaria que já passamos por momentos piores e, não obstante, estamos aqui. Porém, o que deve ser percebido, o grave disso tudo, é que as secas nunca foram tão generalizadas, nunca foram tantas ao mesmo tempo no mundo. Isso é que inédito. Quase todo o planeta sofre com secas severas simultâneas. Aqui em Santiago mesmo, somos testemunhas de uma das maiores estiagens de todos os tempos em nosso município, talvez a mais prolongada da história, com o trágico fato inédito de vermos a nossa imensa barragem quase seca.

E se aliarmos a esses "detalhes" o terrível fato de que o Hemisfério Norte está tendo um dos verões mais abrasadores da história, de que as águas oceânicas setentrionais nunca estiveram tão quentes, de que as águas do mar Ártico atingiram este ano a maior temperatura desde o início da medições, e de que o gelo da Groenlândia chegou a derreter em 97%, recorde absoluto e inquestionável, podemos elaborar uma sombria questão: da forma como não fazemos nada, o que será da humanidade nas próximas décadas?

20 agosto 2012

Ilógico

entre o tudo que não existe
dou-te-me este poema
vitoriosamente triste
pois nem triste chegou a ser:
talvez o fosse
se eu me pudesse ver

e a minha pá (lavra de coveiro)
que não é suficiente
talvez o seja
em se olhar ao mundo
como morrer
e só então
ser profundo

a minha humanidade
não me perdoa:
sou minha culpa
e o culpado
do que não voa

e o que me eleva
é o que não veio
ou talvez veneno
envernizado em taça
eternizada
entre teu seio

que o horror divino
é sempre firme
em tudo há medo
e aponta um dedo:
sentir é crime

eu sou
o que não me esquece:
sou como um sono
e tu minha prece

a minha palavra
não dará ensejo
a nenhuma lágrima
e não será desejo
de organismo etéreo
o que eu disse
nem está dito
o que eu não disse
eu me mistério

17 agosto 2012

Potências

dizer
(como se em não-dito)
essências

abrir
(do que então pequeno)
imensas

tornar
(como se ideias-nadas)
suspensas

mostrar
(do que nunca foram)
presenças

tocar
(no que não-violino)
cadências

trazer
(desde o que desforam)
ex-ciências

saber
(como se ao fora errado)
con-sências

16 agosto 2012

Para as Eleições, para os Candidatos... O Político*

Agora, estão dizendo que sou desonesto. Nada sabem sobre os desígnios de um grande político. Queria que os que me criticam estivessem em meu lugar. Eu também já fui um grande idealista. Em minha juventude, queria mudar, não, mais que isso, queria revolucionar minha cidade, meu Estado, minha Pátria, e, por que não? o mundo. Eu me sentia capaz das maiores realizações, dos feitos mais nobres e grandiosos, dos atos de heroísmo, do sacrifício pela nação... E eu me via, em meu magnânimo futuro, rodeado de todas as glórias, adorado pelo povo, um símbolo do que é correto, justo, enfim, um grande homem, o maior dos políticos.

Mas não pensem, meus senhores, minhas senhoras, não pensem que eu abri mão de todos esses ideais sublimes. Não, eu apenas os adaptei aos nossos tempos, às necessidades da sobrevivência. Ao contexto de nossa sociedade. De nossa civilização moderna, onde não há espaço para ingenuidades. Os ideais de um grande homem continuam vivos e ativos em meu interior, em minhas atitudes, sempre arraigadas na honra e na dignidade. Isso é que é ser honesto, honesto em manter a minha palavra de homem, qual seja, a que um dia prometeu lutar pelo bem-estar e pelo progresso do povo e da nação. Isso, eu estou certo que realizo com todos os méritos.

E nos meus discursos, qualquer um poderá comprovar a verdade intrínseca do que afirmo. Vejam, percebam como o meu verbo é forte, intenso, inflamado! Quem poderá duvidar da veracidade das minhas palavras? Quando discurso para o meu povo, eu encarno o espírito dos grandes estadistas, dos paladinos do passado, dos bem-feitores da humanidade. Muitas vezes, já chorei, derramei as minhas lágrimas, lágrimas sinceras, profundas, sentidas, quando me dirigia àquelas pessoas, vendo-as ali, com os olhos brilhantes de esperança, crentes no meu poder de melhorar suas vidas. Ah, como isso é belo, como é emocionante! E eu nunca as decepcionei!

Mas agora, agora vêm esses inimigos do povo, inimigos dos batalhadores da Pátria, atirar pedras na minha vida exemplar, acusar-me de roubo, de corrupção, de tráfico de influência, de crime de responsabilidade, de desvio de verbas... É como sempre digo: quem não está no poder, não sabe como deve agir quando se está no poder. Acreditam que podem ser um grande político sendo um reles santinho. Assim, serão esmagados. Devem entender, esses ingênuos, que estamos no meio de lobos. Entre feras. Já dizia o poeta que quem vive entre feras sente necessidade de também ser fera. Isso não é ser corrupto. É apenas ter consciência do lugar em que nos encontramos. Já que estou aqui e que cumpro com o meu dever, por que não? É justo que eu seja muito bem pago pelo meu serviço, que é fruto de anos, anos! de esforço, de dedicação, de reflexão sobre a vida, de criação de laços de amizade, de enfrentamento de inimigos, de sacrifícios voluntários, de dias e dias longe da família, da pessoa amada, para ficar ali, em meio a homens sórdidos, raposas ardilosas, criando pactos, alianças, sabendo a hora certa de apertar o gatilho. E aí, então, depois disso, eu sou um ladrão? Mas o que é isso? Onde é que estamos?

Meus amigos, tudo depende do ponto de vista. O que é desviar uma verba? O que é uma verba? Entendo que a verba pública, e os senhores hão de concordar comigo, é para o bem-estar do povo. Então, digamos que eu tenha me apropriado de alguma verba pública. Se o fiz, foi porque considero que foi para o bem-estar de todas aquelas pessoas as quais represento. Exatamente. Compreendo perfeitamente a importância da minha pessoa para a nação. Deixemos de falsa modéstia. Eu merecia aquele dinheiro. Merecia, primeiro por que batalhei muito para estar onde estou. E cumpro as obrigações de um homem eleito pelo povo. Estou dia e noite preocupado com o bem-estar da população, com o desenvolvimento do país. O que mais desejo nesta vida é contemplar a felicidade do meu povo. E estou trabalhando para isso. E quero trabalhar ainda mais. Então, agora, entendam este ponto fundamental: para isso eu preciso de dinheiro.

Sim, eu sei que dirão que deputados e senadores já ganham muito. Mas dizem apenas por ignorância.  Por absoluto desconhecimento das inúmeras funções e atribuições de um bom político. Nosso salário não dá para nada, no que se refere ao exercício de nossas funções. Se eu não fosse um grande político tão cheio de responsabilidades, se não necessitasse de tantos assessores, de tantas pessoas de confiança, de tantas amizades imprescindíveis para o devido desempenho do meu cargo, tudo bem, o salário seria ótimo. Porém, infelizmente, não é assim. Eu preciso comprar pessoas. Digam o que quiserem, mas é assim. Se eu não comprar pessoas, que político serei? Quem estará do meu lado? Quem apoiará minhas ideias? Quem divulgará o meu nome, as minhas promessas, as minhas inúmeras realizações? Quem alardeará para toda a nação o grande homem, o genial político que sou?

Percebam, eu precisava daquele dinheiro, daquela pequena, exígua, parcela daquela verba para continuar a realizar o bem para o povo. Foi uma necessidade que somente os grandes homens compreendem. Eu tenho que fazer favores para aqueles que me auxiliam nesta dificílima empreitada que é engrandecer a nação e tirar o povo da miséria. Ou será que não sabem que ninguém faz nada de graça? Aqueles homens e mulheres que me auxiliam, que possibilitam a minha atuação pelo povo, também necessitam da sua parte. Do seu pagamento. Claro que esse pagamento nem sempre se refere a uma soma em dinheiro. Às vezes, é alguma outra necessidade dessas pobres pessoas, tão serviçais, que dão suor e sangue pelo nosso Brasil. Eu, como o homem justo que sou, devo atender justamente às reivindicações dessa gente que vende os seus prestimosos serviços, os serviços de suas empresas, de seus jornais, de seus blogs, que vendem as suas valiosas opiniões, enfim, que vendem a si próprias! Observem o gigantismo de tamanhos sacrifícios! E isso nem sempre sai barato, naturalmente.

Claro, às vezes, apenas pedem como pagamento um empreguinho aqui, uma informaçãozinha ali, uma participaçãozinha acolá, um patrociniozinho mixuruca, enfim, essas coisas simples, nada de mais. Porém como que vou possibilitar tais coisas a essas pessoas tão úteis, que são tantas, se eu não tiver dinheiro, poder econômico, influência política? E vou tirar dinheiro de onde? Ora, claro que das verbas públicas, exatamente pelo motivo de que eu as usarei para o bem da nação, e isso é algo inquestionável, indubitável, irrebatível, conforme atestam meus argumentos. Não é um desvio de dinheiro, é um emprego inteligente de uma verba que seria desperdiçada em alguma obra desnecessária. E que depois ainda acabaria abandonada. E esse dinheiro indevidamente definido como “desviado” nem ficou em minhas mãos. Foi para quem mais necessitava: aqueles que estão sempre do meu lado (e, por conseguinte, do lado do povo), auxiliando-me na minha divina missão.

Ah, irão dizer que isso a lei não permite? Ora, os grandes homens, os gênios devem estar acima da parca lei humana. Quantos feitos grandiosos nunca teriam sido realizados se não houvesse os corajosos que enfrentam todas as leis, nem sempre justas, os padrões estabelecidos, o senso comum, que vão contra todos os preconceitos e julgamentos ofensivos? Sei que este é o meu caso. Sim, podem me classificar como um ladrão, um salafrário, um cafajeste, seja o que for, eu aceito, em nome da nação pela qual sofro e me sacrifico. A minha consciência resplandece em absoluta tranquilidade. A tranquilidade do dever cumprido.

*Republicação do conto, tendo em vista as eleições. (Na imagem, o quadro "La Lampe Philosophique" de Magritte.)


15 agosto 2012

O Fracasso nas Olímpiadas – A Vergonha na Educação – e 50% das Vagas das Universidades para Escolas Públicas

         Para um país com quase 200 milhões de habitantes, 6ª economia do mundo, com uma extensão territorial das maiores do planeta, com uma diversidade de povos imensa, conquistar apenas 17 medalhas em uma Olimpíada, sendo míseras 3 medalhas de ouro, é, no mínimo, um fracasso. Que se torna ainda maior se levarmos em consideração que as próximas olimpíadas serão no Brasil.

            A maioria culpa pelo desastre a falta de investimentos nos esportes e em nossos atletas. O que é uma parte da verdade. Embora os investimentos e incentivos aos esportes tenham quase dobrado nos últimos 4 anos, ainda é pouco. O governo investe pouco e as empresas, principalmente as privadas, menos ainda.  Estas só querem saber de lucros imediatos. Principalmente no Brasil. As maiores empresas aqui são de outros países, por que vão querer investir em nossos atletas? Preferem, é claro, investir nos atletas dos países deles.

            Mas há um ponto da questão que quase ninguém toca: um bom atleta não é formado depois que se decide a ser atleta, já na fase adulta. Um bom atleta começa ainda criança, na escola, tendo o incentivo e a estrutura para a prática dos mais diversos esportes e atividades físicas. Porém não há incentivo e muito menos estrutura em nossas escolas públicas para tal.  Sem educação, sem nada. Inclusive, sem bons atletas. E sem medalhas. Mas no Brasil, o que todos desejam, em todas as coisas, são os resultados imediatos. Investir em educação? Não, isso demora muito, leva tempo, exige muito dinheiro, há que se começar pagando bem os professores, enfim, não vale a pena. O povo quer ver resultados imediatos, coisas que saltem aos olhos, obras faraônicas, que ostentam uma majestosa aparência.

            Tanto é que o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do Brasil é ridículo. E dizer ridículo ainda é um eufemismo. É catastrófico! Nas Olimpíadas ficamos em 22º lugar, e fomos mal. E na educação, então? Na educação, estamos em 53º lugar entre os países analisados, atrás de Chile, Argentina, Uruguai, Colômbia, países que superamos nas Olimpíadas.  Nossos jovens saem do Ensino Básico sem saber interpretar um texto. Só isso. Não há nem mais o que comentar.

            E quando surge uma rara boa notícia na educação brasileira, bem, aí os ricos não gostam. Agora, os riquinhos estão putos da cara porque 50% das vagas das universidades públicas devem ser destinadas para estudantes que tenham cursado somente o ensino fundamental e médio em escolas públicas. Nada mais justo. As universidades públicas são pagas com dinheiro de todo o povo (e todos sabem que os pobres são os mais penalizados com os altos impostos brasileiros), mas os que mais preenchem as vagas dessas universidades são os filhos de ricos, que podem pagar as melhores escolas particulares e ainda cursinhos. Sem contar que não precisam trabalhar, podem se dedicar somente aos estudos. E adquirir os livros que necessitam, que quase sempre custam os olhos da cara em nosso país. O ensino público deve ser melhorado a ponto de se equiparar ao particular? Óbvio que sim. É o que estou sempre dizendo e pelo que sempre combati aqui no blog. Mas enquanto isso não ocorre (e vai demorar, se é que vai acontecer), a medida do governo é um paliativo muito bem-vindo como forma de ajudar a equilibrar um pouco as enormes diferenças sociais do Brasil.

Quanto à charge acima, eu poderia realizar uma simples alteração. No lugar do atleta, poderia ser um escritor. Que vai até os governos, até as empresas pedir apoio e patrocínio, mas recebe sempre um polido, mas definitivo, não. Depois, governos, empresas e população em geral querem que os escritores sejam difusores de cultura, de saber, de pensamento, de sensibilidade, enfim, em um país absolutamente carente de todas essas coisas.  Ou então querem dar e ostentar títulos a determinados municípios, como “Terra dos Poetas”.

14 agosto 2012

Perdendo o meu Tempo...

perdendo o meu tempo...
(mas como diria Fernando Pessoa:
o que é o tempo para que eu o perca?)

se eu ler um romance
no lugar de ganhar dinheiro
perderei o meu tempo?
se eu ouvir música
no lugar de ler um romance
perderei o meu tempo?
se eu brincar com um gato
no lugar de ouvir verdades
perderei o meu tempo?

se eu tocar  em sonhos absurdos
buscando antigas inspirações
que não inspirarão ninguém
perderei o meu tempo?

e se eu entender toda a humanidade
sem sair da minha preguiça
(que necessidade que há
de se sair da preguiça
para se entender a humanidade?)
perderei o meu tempo?

real ou irreal...
o que é um ou é outro?
qual dos dois é perda de tempo?

a falsa felicidade de todos
veio do ganho de tempo?

por mais
que eu engendre planos
que por mais se sucessem
que sucesso é que terei
que tempo eu ganharei?

lembro do tempo
em que eu me esquecia
e escrevo algumas linhas
que são ainda mais esquecimento...

por que
devo fazer alguma coisa à humanidade?
ser produtivo
é um ato falho.
não produzir nada:
o mais difícil trabalho.

12 agosto 2012

Quatro Batidas na Porta

I

dizer...
para quê?
que verbo será ouvido
seja verso de amor
seja quebra de vidro
ou de...

II

nada vale...
ainda que fale
de dores
ou que verse
das flores
do vale

III

fosse em tragédia
fosse em alegria
quem dera ficasse
aquilo que fica
da 5ª Sinfonia

IV

ninguém se importa.
...
até que se ouçam
quatro batidas na porta...


10 agosto 2012

12 Dicas para ser Odiado

Hoje, um textinho de auto-ajuda.  Para aqueles que quiserem ser odiados, deixo minha contribuição:

1) Seja independente. Não se prenda a nada nem a ninguém.
2) Pense.
3) E cometa a ousadia de dizer o que pensa. De preferência, argumentando. Se souber argumentar e sustentar suas ideias, tanto maior será o ódio.
4) Não submeta suas opiniões às opiniões dos outros.
5) Procure não seguir o que está na moda.
6) Contrarie os gostos populares, rejeitando e/ou questionando tudo o que for considerado bom pelo povo em geral. 
7) Desenvolva uma personalidade forte, firme e corajosa. Ninguém suporta uma pessoa assim.
8) Jamais adule, ou puxe o saco, ou se venda.
9) Procure dizer a verdade sobre aquilo que nos cerca. Ironize um pouco também.
10) Julgue o que for medíocre como sendo realmente medíocre.
11) Tenha talento. E quanto mais talento tiver, maior será o ódio.
12) Por fim, faça algumas coisas que os outros não aprovam que você faça.


09 agosto 2012

A Propósito da Seca

a humanidade erra
quando só considera luz
o que sendo
como luminoso

há vezes
as belezas mais profundas
estão na escuridão da mata
e não no campo
aberto em sol

o sublime é o fruto
da tragédia do gênio

dizer-se que um sorriso
é sempre bem-vindo
seduz...
mas para
quem vive na seca
não o sol
mas a tempestade
é que é a luz

07 agosto 2012

O Momento Oportuno

o momento mais oportuno
é aquele momento
que não é oportuno a ninguém:
é assim que se vai mais além

deixar que se espere
até quando já não mais se espera
é a forma mais severa
de se provar que se é grande
surpreender na batalha
quando se pensa
que não há batalha alguma
é já estar na batalha adiante

o silêncio
prolongado ao intolerável
deixa de ser silêncio
e se torna ausência
(sendo então um auge
do que consciência)
e quando for absoluta a ausência
é o instante de falar...
onda imperceptível
que se torna maremoto
desde o invisível do mar

o que não... é o que há.
quando deixar claro
que não é,
então será

06 agosto 2012

Não, pelo Contrário

a palavra
quando bem dita
(e sempre melhor se maldita)
é o que não se espera dela:
a palavra que fala
é a que não está escrita

um pulso do que se passa
de outro lado por outro além
sombra cristalina
do que não se encontra
desde o submerso da atlântida
até as muralhas da china

a minha palavra
que agora te intenta atingir
tingi-te de outro vinho
algo a mais que (dis)tinto
que tu não vês:
a poesia é um invisível assangrado
entre o de mim
e o em vocês

surge do que não se quer
amargo do que não se aceita:
poesia que é tanto mais sublime
quanto mais a vida é imperfeita

a poesia
é um ar que trago
mas não respiro
por isso que errei em tudo
para acertar com  a palavra
como se fosse um tiro

05 agosto 2012

Vote em mim para vereador. Mas... por que mesmo?

Há algo que sempre me chama a atenção em candidatos para vereador. Eles quase nunca dizem, não ao menos de forma clara, o porquê de quererem ser vereadores. No máximo informam algumas de suas características, de suas supostas qualidades, quase sempre clichês, do tipo: competência e dinamismo, trabalho e honestidade, seriedade e compromisso, e por aí vai, aquelas baboseiras que não dizem absolutamente nada, pois todos dizem a mesma coisa, e se todos dizem a mesma coisa, como escolher entre um e outro? Ademais, como saber se a pessoa realmente possui as qualidades que afirma ter?  Mas o que realmente importa, os objetivos do candidato caso seja eleito, as suas propostas, os seus ideais, enfim, o MOTIVO social de ele querer ser vereador, isso são raríssimos os que explicitam de maneira convincente.

Talvez, nem eles mesmos saibam. Ou, talvez, saibam: ganhar um bom salário sem fazer quase nada, ajudar os seus amigos e familiares, obter certa fama e certo prestígio, "aparecer" mesmo,  estar no meio dos "poderosos", ou seja: nada que diga respeito ao povo. 

Aqui em Santiago, há vereadores que não apresentam uma proposta sequer realmente séria, que seja em prol do desenvolvimento efetivo da comunidade e do município. Há os que estão na câmara porque já se acostumaram a ficar lá e querem sempre se reeleger, contando com seus eleitores acomodados e absolutamente acríticos. Há os que estão pela vontade (e pelo dinheiro) do papai. Há os que estão para fazer belos discursos e impressionar os eleitores com seu verbo vazio. Há os que estão porque gostam de política. Ou de politicagem. Gostam das reuniões (ou festas) de partidos, com churrasquinhos, pratinhos de frios, muita conversa fiada, muita risada, muitos tapinhas nas costas... Claro, quem não quer ser vereador para poder ter parte nesses privilégios? Agora, trabalho em benefício do povo... Para quê? O povo não se importa mesmo. E gosta de votar sempre nos mesmos. De preferência, nos ricos. Por que será?

Recordo agora de um caso verídico. Um candidato a vereador em um município da Bahia (não lembro qual munícipio), pelo fato de ser anão, utilizou-se do seguinte slogan: "Votem no anão 'fulano'. Dos males, o menor". Faz sentido. Muito mais do que escrever embaixo da foto do santinho um lugar-comum completamente vazio: "Trabalho e Competência".

Aproveito a ocasião para declarar meu voto para vereador ao amigo Juarez Girelli. Foi o único que me deu uma ideia satisfatória dos seus objetivos na câmara caso venha a ser eleito. Não direi que não haja outros bons candidatos. Acredito que existem. Porém querem ser vereadores para quê? Isso ainda não esclareceram.