31 agosto 2011

Soneto à Solidão

o tudo que perdi foi a qual onde?
em que céu planam os planos do meu céu?
e que som vingará do que foi meu
desta música que ao meu alto esconde?

mas da minha alma nunca cala a fonte
nem a voz que em silêncio prometeu...
há no que finda o erguer desse troféu
e um olhar desde o barco de Caronte...

do que morri retiro minha espada
do que não fui eu sagro o meu maldito
há uma águia que se oculta entre o meu nada

e um nada que me águia ao infinito...
há uma flor que de si mesma se escada
deste horror que do meu alto eu te escrito...

30 agosto 2011

Construção de Hidrelétricas é Crime Legalizado

Crime legalizado e necessário, é verdade, mas nem por isso menos crime. Crime contra o planeta, contra sua fauna e sua flora, contra seus rios. Agora mesmo, serão construídas as hidrelétricas de Belo Monte, na Amazônia, e de Panambi, aqui no RS. Claro que as dimensões da de Belo Monte não são comparáveis a de Panambi. Porém, cada uma será um desastre em sua região. Sim, um desastre ambiental, que a sociedade aceita, porque não há alternativa, não há o que ser feito. Alguns, os que mais lucram com as obras, aceitam com um vasto sorriso no rosto. E os governos proclamam aos quatro ventos que estão promovendo o desenvolvimento de forma sustentável. Para eles, talvez sim. Para o planeta, definitivamente não.

Sempre é realizado um estudo de impacto ambiental antes de se construir uma hidrelétrica, que, no fundo, não passa de um paliativo praticamente inútil. Tudo vai ser destruído de qualquer forma. Quilômetros e quilômetros de florestas inundados. Milhares de animais afogados. Mesmo que muitos sejam retirados antes da construção, é óbvio que grande parte sofrerá e morrerá com a inundação. Magníficas construções naturais sepultadas pela necessidade do “progresso”. E ninguém se preocupa com isso. Ou, se há alguma preocupação verdadeira, ela logo dará lugar à inexorabilidade do crescimento da civilização.

Segundo estudos, a América Latina terá que dobrar sua produção de energia elétrica nos próximos anos para evitar os apagões. Ficamos loucos quando não há energia elétrica, não é mesmo? Não sabemos o que fazer. Eu mesmo não poderia publicar este texto. A humanidade se transforma em um nada. Contudo, a população aumenta, há que se ter energia para todos, as indústrias não podem parar, pelo contrário, têm que produzir cada vez mais, a humanidade tem que se mover, seguir adiante, rumo ao infinito.

Não há mais espaço para os outros seres vivos. “O homem é a medida de todas as coisas”, o Rei da Criação, não é mesmo? Tudo deve ser dele, tudo deve servir a ele, ser escravizado, dar a vida, se necessário. Mas a humanidade não é infinita. O olhar furtivo da morte a ronda de momento a momento. Saberá ele a hora de dar o bote. Chegará o momento em que não será possível seguir adiante. Todos sabem disso, consciente ou inconscientemente. A maioria finge não saber. Outros, não querem nem saber. Mas sabem. Há os que criam todo tipo de evasivas. Fundamente argumentadas. Mas, no fundo, também sabem. É que ninguém, nunca, jamais, gosta de admitir o fim. É politicamente incorreto. O correto é crer que se irá sempre em frente. Mesmo que seja à custa da morte do planeta. Só que o planeta não pensa assim...

29 agosto 2011

Palavras de Sangue


antes de ser sagrado
sagre-se
antes de ser sacado
saque
antes de ser sangrado
sangre
atire no ponto
antes que te atirem da ponte
e puxe a faca
antes da maca...

o tigre é tigre porque tem dente
e ameaça à frente
a águia é águia porque tem garra
e mata na marra...

no cavalo se coloca o encilho
e no homem o gatilho...
como ter confiança na esperança?
e alegria no hoje em dia?
ou verdade na humanidade?

há que ser mais forte que a morte
pois não há como se livrar dessa roda:
o sangue está sempre na moda.

28 agosto 2011

Homem Fraco


homem fraco
que mal se aguenta nos cascos
com uma dor de estômago
homem trôpego
pouco mais do que de macacos
pedaços de mentira aos cacos
vazio de pensamento em vácuo
fraqueza lépida
que não sabe o que se faz
na falta de energia elétrica

homem fraco
estilhaços de espírito
trancafiado em frasco
homem lerdo
que não sabe o que fará
pelo próprio deserto
vieste de que ontem?
por que vives o que vives?
vais para que onde?

o que é que sabes disso que não sabes?
onde é que sentes isso que não sentes?
o teu futuro me dá asco
ergues um túmulo para o teu si mesmo
e para o meu desprezo
ah quem me dera
ser o teu carrasco
homem fiasco.

26 agosto 2011

Demônio


som de tormenta e vingança
somente a Marcha é que avança
lua e infortúnio na tarde
doença de um sol que não arde
céu que se cai e desmancha
som de teu lábio e vingança

lábio de seca esperança
um vulto então que te alcança
lago de funda desgraça
morte que olha e não passa
olho no abismo se lança
lábio de valsa esperança

valsa ao desejo que dança
baratas pela tua trança
sonho que nunca me leva
sangue afogado na treva
Marcha de morta esperança
valsa ao Demônio que dança...


25 agosto 2011

Suspiro de Lobo


às vezes
fico pensando
no que hei de pensar
e tentando achar
o que hei de fazer
mas por que
hei de pensar e fazer alguma coisa?

quem disse
que pensar é pensar
e fazer é fazer?
o melhor pensamento
é aquele que lua
sem ter que pensá-lo luar
a melhor das ações
é aquela que sol
sem ter que fazê-la solar

então deixo
que minha obra viva
quando há de viver
e durma
quando há de dormir
o mais é nada:

não desejo além
que minha obra seja
como um suspiro de lobo-guará
se ocultando na mata...

23 agosto 2011

“Meu Coração, não sei por que...”


meu coração...

se eu disser que tu estás mal
todos vão dizer
que estarei sendo um melodramático
ou um ressentido
ou um egoísta
que só se importa
com seu próprio lado
e sua própria crista

meu coração...

se eu disser que tu estás bem
todos vão dizer
que estarei sendo água-com-açúcar
um enjoadozinho
poesia fraquinha sem graça
que não vale um tostão
se declamada em sorrisos
no meio da praça

e meu coração...
se eu disser que tu sofres
pelo sofrimento do mundo
serei acusado
de ser falsamente profundo

então
meu coração
não sinta nada
mantenha-te frio...
entre a neve lerda
ou
melhor ainda
vai  à merda

20 agosto 2011

Soneto ao Tempo


deixa que passe o que de mim se corre
verás então que cada vez mais rápido
cada vez mais o que se bebe ao trágico
é todo um sonho em correnteza em porre...

deixa que esguiche e que de mim se jorre
tudo que sinto ao cada vez mais ávido
verás então que é cada vez mais válido
este meu Fim que a outro Fim socorre...

verás ao não como ocultei meu lago
com som de pulso este meu sim pressago
inundará tudo o que em ti derrama...

o teu dormir eu sempre sou que trago:
quando se dorme o sangue queima em chama
quando se morre um rio de olhar se inflama... 

18 agosto 2011

O Teu Sorriso Esperado


o teu sorriso  encantado
cantado por entre os sisos
o teu sorriso despido
caído por entre os pisos
o teu sorriso esvaziado
encatarrado o teu riso
o teu só riso calado
frio de lábio manchado
esse teu riso macabro
irônico do meu destino
o teu sorriso sarcástico
o teu sarcasmo descido
escárnio do meu maldito
se rindo do meu sangrado:

o teu deboche divino

17 agosto 2011

A Genialidade dos Buracos, Desníveis e Lombadas das Ruas de Santiago

Abro um pequeno parênteses aqui no blog para elogiar as ruas da minha cidade. As pessoas geralmente reclamam, mas é porque não percebem a genialidade incompreendida que as ruas de Santiago ostentam, encontrando-se cheias de buracos, com valas e desníveis absurdos e enfeitadas de lombadas involuntárias por todos os cantos. 

Para que querem ruas lisinhas e arrumadas? Para correrem com seus veículos e ainda se acidentarem? Para atropelar pedestres incautos? Ou para dirigir de forma absolutamente despreocupada, tediosa até, sem ter que realizar nenhum desvio, sem necessitar utilizar-se de nossa faculdade da concentração, que tenderá, dessa forma, a se atrofiar?

Pense bem, o estado de nossas ruas é a forma mais eficiente e mais barata de evitar acidentes de trânsito. Por isso que cada vez que é necessário abri-las, o calçamento que é recolado fica daquela forma horrível, completamente mau feita. É proposital, é para que os motoristas redobrem sua atenção e não fiquem dormindo enquanto dirigem. Se ele sentir um forte solavanco capaz de quebrar o carro, vai aprender a lição. Dirija devagar, a 20, 30km/h no máximo. Ou nem dirija, saia a pé, estará evitando poluir ainda mais.

E convenhamos, não é muito mais emocionante dirigir realizando desvios, dando freadas aqui e acolá, tendo um solavanquinho de vez em quando, furando um pneu? Sim, isso é a vida. Queriam o quê? Um tedioso mar-de-rosas? Além do mais, dirigir atento é uma forma não só de evitar acidentes, mas também de manter o cérebro ativo. Não é genial?

16 agosto 2011

Mais Alto

um outro sol
um outro sol mais ao alto
se erguerá sobre o sol derradeiro
vitorioso em som sonho e pesadelo
e um outro som mais alto e vermelho
se erguerá em de cada perdido instante
em teu vasto sim de guerra e mais adiante
um outro sou se erguerá em que vai avante
mais alta em larga prata e mortífera espada
de ponta adiante e ainda mais e mais elevada
de ultra e além lâmina e mais afiada em adaga
e um outro canto em soprano surgirá mais além
de sublime em sublime e mais ainda em quem vem
se erguerá mais acima e acima em que nunca ninguém
e se erguerá mais um passo ao alto do horizonte que espanta
e um outro verbo mais grave com fúria aguda venta e se lança
e outro olho mais fundo e avante em outra Força mais alta levanta

14 agosto 2011

no Auge do Fracasso


a minha parte em tudo isso
é a parte do depois de isso...
sei de tudo o que já foi estado
e do que ainda é
mas não posso
estar com o que aí está
pois sou-me um outro passo
pé por pé

nem sei porque digo
isso que passo
mas sei que passo:
e digo o porquê...
que é eu ter que passar-me
e insistir no que não:
quedo a olhar-me onde ninguém me vê

um todo formado por parte
tem sempre última que é a última
que é a que nunca ninguém quer
e ali beijei o meu mister

por isso sou isso
que te canto só
e o meu sucesso
(que é em tudo que não é)
será quando todo sucesso
for apenas pó

não espero que me ouças
(tu – tu mesmo – e todo mais)
e nem espero o que me espera:
o meu objetivo
é ele não ser alcançado
(tu me alcanças?)
por isso já o tenho
e por isso nada faço:
terei minha vitória
no auge do fracasso

12 agosto 2011

Noturno


tu...
em sono mozartiano
dormes intocata:
sonata

eu...
sorumbático sonâmbulo
vou sozinho pelo sempre
em silêncio de verso preto:
soneto

tu...
aos sons sonhos soturnos
com sinos sóis de adorno
adormeces
a dor...
preces

eu... só
pelo sereno da madru...gata:
serenata

11 agosto 2011

a Brahms e seu Trio Opus 8


se Borges
se considerava indigno de Ti
o que é que me resta?

resta-me o que me revelaste:
um só dos teus trios
é uma revelação mais elevada
que uma trilogia de Bíblias
e que toda a obra de Kant
triplicada

e tão mais alta é então do meu verbo
que minha mais alta palavra
se queda em cadente miséria
minha mais alva palavra
que é mais alta que meu eu
e eu mesmo sou alguém que desceu...

então me largo e nem te canto
e nem me conto e só me alago
em teu mar de Verbo em que me trago
que me tragas em tuas águas hialinas...

nem verbos nem versos nem cantos
mas numa lágrima cálida eu calo
diante do amor que me ensinas...

10 agosto 2011

78% das Florestas do Planeta já não existem mais. E O Senhor dos Anéis.

O leitor deve estar se perguntando o que uma coisa tem a ver com a outra. E eu respondo: muito. Há cerca de 70 anos, o escritor de uma das maiores criações da imaginação de todos os tempos, J.R.R. Tolkien, deixou-nos, no segundo volume de “O Senhor dos Anéis” – “As Duas Torres”-, o seguinte: “As florestas do mundo irão sucumbir diante do poder da indústria”.  Claro que o “mundo” a que Tolkien se referia era a “Terra-Média”, o mundo de sua imaginação. Mas torna-se mais claro ainda que a sentença do escritor é perfeitamente aplicável ao nosso planeta. Soa como uma profecia, um aviso, uma previsão. Na época da elaboração de “O Senhor dos Anéis”, ainda havia muita floresta ao redor do planeta. A Amazônia, por exemplo, estava praticamente intacta, assim como as florestas do Canadá e da Rússia asiática. Já hoje... Convido-os a acompanhar os índices abaixo:

Índices de destruição florestal ao redor do mundo:

Europa: 99,7%
Ásia: 94%
África: 92%
Oceania: 78%
Rússia: 71%
América do Norte: 66%
América do Sul: 54%

Fonte:  World Resource Institute, EUA.

Realizando-se o cômputo geral, 78% das florestas do planeta já não existem mais. Para os otimistas, os crentes nesta humanidade, aqueles que acreditam na evolução eterna, que a humanidade está sempre melhorando, esse catastrófico fato não deve passar de um acidente de percurso, que a humanidade irá tirar de letra. Evolução... Como se assim fosse com todas as coisas... Por acaso não nascemos, crescemos, tornamo-nos adultos e depois envelhecemos e morremos? Isso é evolução e involução. O dia evolui e involui para que venha a noite. E depois é a vez da noite involuir para que venha o dia. Assim é com tudo no universo. Por que seria diferente com a nossa humanidade?

Eu não temo afirmar que esta atual civilização humana já principiou seu processo de involução. Não digo que a humanidade vai acabar total e simplesmente. Digo que esta civilização está a caminho de seu fim. Não quer dizer que não possa surgir outra depois. Os sinais tornam-se lentamente evidentes com o passar dos dias. Qual o primeiro sinal da aproximação da morte? Uma doença no organismo, que pode ser curável ou não. Qual o organismo da humanidade, o seu corpo? É o planeta, obviamente, que se encontra gravemente doente. É um fato inquestionável. Em sua arrogância e pretensa autossuficiência, os homens creem que a ciência ou que um ajuste utópico e absurdo das coisas por si só irão resolver os problemas que nos ameaçam. É belo ser otimista. Até parece sábio. Para as coisas se resolverem, o homem teria que mudar essencialmente. Agora. E olhe lá. Mas quem conhece o ser humano sabe que ele não muda.

O ser humano pensa que ele é o único ser que sabe das coisas e se vangloria de seu inútil intelectualismo. Sabedoria transformou-se em sinônimo de vã intelectualidade e de complexas teorizações, suntuosos castelos belíssimos na aparência, mas que não guardam essência alguma. O saber advindo da intuição, do coração, da espiritualidade é hoje ridicularizado. Mas é assim que os poetas, os artistas sabem. Foi assim que Tolkien previu o desastre de nossas florestas. Fico com Goethe: “Toda teoria é cinza, e só é verde a árvore de dourados frutos que é a vida”.

Há sabedoria no planeta. E nas suas conexões universais. Bem mais do que no homem. A Terra, nossa mãe e organismo da humanidade, saberá varrer aqueles que estão a parasitando. O novo só surge quando o velho morre. Essa é minha única esperança.

08 agosto 2011

São Todos Iguais


um verso igual
e outro parecido com o primeiro
outro verso igual
e mais um
sem diferença alguma
outro verso igual
e absolutamente monótono
e outro verso monótono
monótono
e igual ao segundo
igual ao terceiro
igual ao quarto
ao quinto
ao sexto
ao sétimo
todos iguais ou parecidos
e outro verso igual
e outro verso parecido

parece que não é
mas é
pensa que não é
quer passar como se fosse diferente
mas é igual
igual a todos os outros
os outros todos iguais
igual parecido
parecido igual
absolutamente chatos
insuportáveis e medíocres
todos iguais entre si
iguais

iguais
aos seres humanos

07 agosto 2011

Minha Culpa

a culpa é minha
(ponto)
e em mesmo no que não me sou
sei que sou eu o culpado
carrego a culpa de acertar
quando devia me levar errado
admito que nunca fui admitido
ali onde jamais estive
e que é minha culpa que me deixa livre

todo carrego-me de lado a lado
sendo o fumo que respiro do que fiz
e ainda mais do meu não-ato
quando mascarei-me de sensato
não passei de um quase e de um triz

quando amanheci-me já era tarde
e sempre quando olhei ao céu
(com todo erro do que é meu)
se me (as)somava a tempestade

revelo-me como alguém que não presta
que para não ter que morrer em si
se deu um tiro na testa
e martelei-me em invisível tribunal
para ter a certeza absoluta
de que eu sou mal

de todas as culpas sou culpado

a não ser de uma:
a de ter coragem de dizer-te.
e por isso condenado.

05 agosto 2011

Mais Um Trecho de Um Instante de Sono (Sono Sanguíneo)

como o líquido negro do café
que escorre dos vales da minha urgência
sonho que um vinho
vive em meu passo à beira...

sou daqueles
que passam às margens do tenso
no passar em seus três sentidos
e sempre um símbolo de humanidade
morta
despenca-me tumularmente furiando
a cada lágrima que em teus
cílios convulsiona-me

um sei que se apaga
no morrer-do-sol
durmo como dorme a lua febre
envelhecida pelo fumo de um cigarro
só não dorme
o que vulcanicamente pulsa
na pele sonâmbula do sentimento
em finais
derramamentos de violinos ocasos
ao Fim da História...


durmo após o mundo

no pânico do ansiamente em charme
para acordar nos roxos abraços
dos sangues do que deve abraçar-me...

03 agosto 2011

Amar é o Quê?

o que é dizer que somos todos irmãos?
que temos todos o mesmo pai
ou a mesma mãe?
ou somos irmãos
porque somos a mesma coisa
a mesma essência a mesma substância?
enfim, eu sou o outro
e vice-versa?
tudo que há em mim
no outro também universa?

sou irmão do tigre
que é filho da mesma Terra
e onde corre sangue que é rubro
ou porque o seu sangue
é uma parte do meu em onda espiritual?
se ele morre
escorre
algo do meu vital?

se os homens se dilaceram na guerra
ou se degeneram em miséria
que sonho do meu ser é que se vai?
que olho do meu peito chora e se contrai
se a floresta se esvaece em fumaça?
quando o planeta sofre
que vida se derrama da minha taça?

sofro porque eu sofro
ou porque o todo sofre?
o sangue derramado lá
sou eu derramado aqui?
o que é isso que goteja das minhas mãos
quando uma cabeça é esmagada?
é lágrima é sangue é mentira
ou é nada?
quando o sol se obscurece no céu
anoitece uma luz no que sou eu?

e isso que digo é para algum fim
ou sou só eu que sinto assim?

02 agosto 2011

O Gênio Maldito Arthur Rimbaud abandonou a poesia e foi traficar armas. E fez muito bem.

Nascido em 1854, na França, Rimbaud, um dos maiores gênios poéticos da história da humanidade, criou toda sua obra entre os 15 e 20 anos de idade. Obra absolutamente fenomenal. Revolucionou a literatura, partindo do simbolismo de Baudelaire, Rimbaud anunciou o irracionalismo e o surrealismo, foi um dos criadores da poesia moderna, influente até os dias de hoje. E com uma obra criada na adolescência. Ele via coisas que ninguém via. E soube como raros expressar as suas visões em palavras de loucuras, alucinações e delírios.

Depois disso, abandonou tudo para viajar pelo mundo, não a passeio, mas a loucura, e sua vida se transformou num mito. Não quis mais saber de escrever. Estava certo. Para quê? Ele já tinha feito mais do que suficiente. E para que perder mais tempo com poesia? Se bem que até tem certa utilidade. Para se postar no twitter, por exemplo. Mas Rimbaud queria provar para seus pais que era um cara sério, e não só um poeta. Foi tentar enriquecer na África. Depois que o acusaram injustamente de homossexualidade. Ele não era. Pelo menos não há nenhuma prova de que o fosse. Pelo contrário. Só se conhecem ligações de Rimbaud com mulheres. Teve um caso com uma viúva italiana e depois casou com uma etíope. Dizem que seu amigo, Verlaine, era bissexual. Porém, Verlaine afirmou que foi tudo invenção da mulher dele. Bem, aí eu já na sei. E também, se Rimbaud fosse homossexual, sua obra continuaria a mesma.

Toco no assunto, porque já inventaram muita coisa sobre Rimbaud. Inclusive que ele teria feito tráfico de escravos na África. Comprovou-se que foi uma calúnia. No entanto, é verdade que traficou armas no continente africano para ganhar algum dinheiro. Como já disse, ele queria provar a seus pais que era um homem sério capaz de ganhar dinheiro e enriquecer. Não trabalhando. Poetas são seres vagabundos. Não gostam de trabalhar. Aliás, quem é que enriquece só trabalhando? Como diria Balzac: “Por trás de toda grande fortuna, há um crime”. É, traficou armas, mas não foi muita, não. Não conseguiu enriquecer.

Mas ele não fez só isso em suas andanças delirantes. Andando por toda Europa e parte da África e da Ásia, aprendeu diversas línguas, aprendeu a tocar piano, tentou se alistar na marinha americana, fugiu da polícia, foi catador de destroços, teve que amputar uma perna e acabou contraindo febre tifóide. Morreu com 36 anos. De uma vida vivida intensamente.

 O que fez Rimbaud abandonar a poesia, para a qual era tão espetacularmente dotado, e ir traficar armas? Não, não foi só o desejo de mostrar aos pais que ele poderia ganhar dinheiro. Abandonou a poesia porque era poeta demais. Porque sentia demais. Ele simplesmente não sabia mais o que dizer. Dizer como? Para quem? Para quê? Se o que ele escreveu na adolescência já era incompreensível para o seu tempo, o que seria a sua criação da fase adulta? Não, Rimbaud não tinha mais nada o que escrever.  Desiludiu-se com tudo, com a humanidade principalmente, e foi tentar ganhar dinheiro. Não, foi tentar viver. Chegou àquele ponto em que não se agüenta mais nada e que nada mais serve, tudo é miseravelmente pouco. Decidiu então ir para longe da mediocridade dos que tentam julgar e determinar o que não se pode: a poeta e a poesia. Alguns gênios malditos quando chegam ao ponto de Rimbaud, suicidam-se, viciam-se em alguma coisa, venenosa, de preferência, tornam-se ocultistas, saem a cometer as coisas mais abomináveis diante do julgamento medíocre dos olhos da sociedade hipócrita. Rimbaud foi traficar armas e encontrar a morte em meio ao horror.

Nenhum reles humano tem permissão de o julgar. Quem já leu “Uma Temporada no Inferno” sabe disso.

“O poeta é o grande enfermo, o grande delinquente, o grande proscrito e o maior dos sábios.”  Arthur Rimbaud