27 maio 2011

Palavras Impossíveis

venho dizer que não digo
escrevo estas palavras
para escrevê-las que não são
que fique estado que não estive aqui
porque nem sei o que é estar
aliás não posso nem saber
ou mesmo deixar de saber
qualquer algo que seja ou não
porque vem a ser um ato
e eu nunca realizo um ato
e inclusive não escrevi
isso que por si diz que não é
acredite que não há por que
em acreditar-me

eu não me sou possível
e já provei que não me podem provar:
é óbvio que não me existo
não há nenhuma palavra aqui
que tenha por si uma vida
é só verbo lançado ao nulo
que se perde como vento ao ar
fruto de acaso irrealizado
que ao fim resulta em nada
e que se formaram porque se formaram
sem causa motivo ou consequência
(e se houver não há de mim)
ao que se conclui que não tenho culpa
(e nem se pode mesmo concluir nada)
e não me podem falar de meu eu
a não-ser como ficção...

pronto
(ponto.)
agora que não existo
posso passar a ser   

6 comentários:

Letícia Palmeira disse...

Muito bom. Espantosamente poético e verdadeiro.

Bete Nunes disse...

Surreal. Impossívelmente possível!

Ingrid disse...

seja e do jeitinho que és..
muito bom Reiffer..
beijos e bom findi

Ira Buscacio disse...

Cada existência exige um punhado de nadas, gordos e altos, que nos levam ao lugar comum, o nada.
Bravo!
Bj e bom domingo

Thaís Alves disse...

Nem preciso ler mais para te seguir e vir muito aqui! Lindo poema! beijos

Anônimo disse...

A gente sempre passa a ser, uma nova realidade indefinida.

Ótimo, poeta!