11 março 2011

“Se essa rua, se essa rua fosse minha...”

tudo ruindo aos poucos
pela rua em ruínas
réstias de rancores de postes
sobre os rabos dos ratos
e um rastro que ronda
de réproba fumaça de matos
pelo relevo em lama
um jaguara rengo
roendo
faz meu peito de cama
uma ratazana roída
rengueando
faz meu dedo de cana
sob uma garoa rala
derrama
um raio roto de lua
sobre a água da vala
e a rã vai tristando um rondó
com o riso rouco de um abutre
em seu ríspido refrão:
estou só
estou só
o ronco branco da queda do pó
das ruínas de um arranha-céu
e a aranha arrancada da toca
que toca e arranha
a minha alma de réu
rasgam e rolam baratas
correndo pelos catarros
remando pelos esgotos
e se arrasta raquítico um gato
de quem arrancaram o seu rosto
e o resto da razão roubada
que era errada
na reza do ruído do sangue
que era meu
arrependido nos olhos remoídos
do horror daquela rainha
que arruinou a rua
que era tua
se fosse minha

5 comentários:

Camila Monteiro disse...

Que legal seu texto... esse foi gostoso de ler!!!! Adorei, estou fã do teu blog!

Unknown disse...

"Se essa rua fosse minha eu mandava, eu mandava ladrilhar." Abraço.

Gisa disse...

Se essa rua fosse minha não ruiria sem que eu nada pudesse fazer a respeito.
Um grande bj querido amigo

Anônimo disse...

"...e se arrasta raquítico um gato
de quem arrancaram o seu rosto
e o resto da razão roubada
que era errada..."

E você me deleita...
Obrigada!

Déia

Bete Nunes disse...

Poesia rica em aliterações que fazem o som de roer. A impressão que se tem, ao ler, é de ouvir horríveis ratos roendo pelas ruas. Essa rua é sua, porque vc a rimou assim. Parabéns!