16 março 2011

Pós-Moderno

sou um homem pós-moderno
e a máquina não pode parar
mais combustível para o carro
e mais energia para a casa
que o carro não para
e a casa
há de sempre ser clara
lâmpada acesa
geladeira e comida na mesa
e indústria a todo vapor
que o progresso não cessa
e não se confessa
e não pode haver atraso
no navio para o lado que for
e hidrelétrica e termelétrica
e nuclear
mais e mais energia
mais força e mais poder
o progresso ninguém pode deter
e o shopping e a fábrica e a loja
a lavoura o fogo a forja
e a mina e o carvão
mais alta e vasta energia
para o micro o celular o avião
seja na água na terra no ar
a máquina e o mundo
não devem parar
até que exploda o meu canto!

mas o pulso da alma
vai parando...

(Na imagem, o quadro "O Dia Sombrio", de Bruegel) 

8 comentários:

Jimmy (Marcone Santos) disse...

É, e o homem moderno levará todo o ser vivente a um holocausto!

Bete Nunes disse...

E tudo começou com a Revolução Industrial. Ainda estamos aqui, mas, até quando?

Davi Machado disse...

Bem, difícil ler um poema seu assim, simples. Essa linguagem é um pouco diferente do que venho lendo por aqui, mas em nada se perdeu o "toque" de intelecto habituado em seus poemas. Abraços.

Perola disse...

Olá,estava passeando pelos blogs dos meus amigos e te encontrei num dos seus comentários.
Gostei do seu texto,uma velocidade interminável e assustadora.
Esse ritmo acelerado esgota a minha alma mas...a produção ñ pode parar é o preço que se paga pelo crescimento.
Muito bom.
Parabéns.
Beijos

Daniel disse...

"O pulso da alma vai parando"
bela frase,
gostei muito da forma
que desenhou a revolução industrial
dos últimos séculos,
as vezes sinto um sufocamento
enquanto a isso.
Abraços

Dan

CARLA STOPA disse...

Até que nos tornem impotentes diante de todas as forças estranhas que se agigantam e nos devoram a alegria, e a vida, e a ilusão de fortaleza.Até o fim...

Vampira Dea disse...

E então? O que es?Homem?Maquina?Homem Máquina? Maquina homem?

vieira calado disse...

Você é um homem moderno - diz -
e, como não podia deixar de ser,
escreve poesia bem moderna
tratando da modernidade.

Um abraço