20 agosto 2010

Minha Desgraça, de Álvares de Azevedo

Álvares de Azevedo foi o mais precoce dos grandes poetas brasleiros. Toda sua obra, extremamente radical e diferenciada para os padrões brasileiros da época, foi criada durante sua adolescência. Como todos sabem, Álvares faleceu antes de completar 21 anos.

Todos relacionam esse nosso trágico poeta ao Ultrarromantismo, por motivos claros, obviamente. Porém, a prova da genialidade de Álvares está no fato, também bastante claro para mim, de que o poeta foi não só além do Ultrarromantismo, como do próprio Romantismo, atingindo as raias do Realismo e do Simbolismo. Para testemunhar o "realismo" de Álvares de Azevedo, deixo o desolado e irônico poema abaixo. Acompanha o poema, a gravura "O Sono da Razão", de Goya.

Minha Desgraça

Minha desgraça, não, não é ser poeta,
Nem na terra de amor não ter um eco,
E meu Anjo de Deus, o meu planeta,
Tratar-me como se trata um boneco…

Não é andar de cotovelos rotos,
Ter duro como pedra o travesseiro…
Eu sei… O mundo é um lodaçal perdido,
Cujo sol (quem mo dera!) é o dinheiro…

Minha desgraça, ó cândida donzela!
O que faz que o meu peito assim blasfema,
É ter para escrever todo um poema,
E não ter um vintém para uma vela!

Álvares de Azevedo

6 comentários:

Davi Machado disse...

Tenho pra mim que esse é um dos melhores poemas satíricos desse Farol brasileiro. Igual a ele talvez se igualasse Bernardo Guimarães, mas em "profundidade" não saberia escolher entre os dois, apesar do segundo não ser muito conhecido por sua obra poética...
contudo, bom ver outra das minhas preferências aqui, não só minha, claro!

abraço

Anônimo disse...

Isso é que é desgraça...
Álvares de Azevedo...
um poeta...que escreveu sobre...
a frustração...de se ter inspiração...e nem um papelzinho para escrever...nem uma luz para iluminar...

Beijos...
Leca

Juci Barros disse...

Um ótimo post, é muito importante reverenciar grandes nomes da literatura de modo que desperta a curiosidade das novas gerações que precisam passear pelos clássicos para que não fiquem apenas com os campeões de venda e posteriormente de bilheterias nos cinemas.
Beijos.

Aмbзr Ѽ disse...

esse poema para mim é um dos mais marcantes dele.
abraços.

http://terza-rima.blogspot.com/

Unknown disse...

Reiffer!

Muito bem descrito o nosso poeta Álvares de Azevedo, que lia escondido quando criança, por censura de meus pais, que achavam a leitura forte.

Tenho uma atração por ele, e pelo que deixou em sua vida. Uma vida curta demais para um gigante.

Muito BOM!

Abraços

Mirze

Patrícia Garbuio disse...

Porque os gênios de todos os gêneros são depressivos,melancólicos ou morrem cedo?Antes deixam obras-primas para que possamos desfrutar.
bjsss