26 abril 2010

Tristeza do Infinito, de Cruz e Sousa


A partir de hoje, uma vez por semana, escolherei um poema de algum grande poeta para postar no blog. Não interpretarei o poema com palavras. Farei sua interpretação, como já fazia com os sonetos de Fernando Pessoa anteriormente postados, através de uma pintura. E assim, deixo aos leitores que façam sua própria interpretação do poema e da pintura, e da possível relação entre ambos.

Iniciarei com o poema "Tristeza do Infinito", de Cruz e Sousa, incluído em seu livro "Faróis", uma das obras fundamentais do Simbolismo brasileiro. Aproveito para lembrar aos leitores que se escreve Cruz e SouSa, com s, e não com z, como quase sempre as pessoas grafam. Eu, sendo um grande fã de Cruz e Sousa (para mim, o maior poeta brasileiro), não posso admitir tal erro, rsrs. Mas vamos ao que importa, o poema. Acompanha-o o quadro "Noite e Tristeza", do pintor simbolista Gustave Moreau.

Tristeza do Infinito

Anda em mim, soturnamente,
uma tristeza ociosa,
sem objetivo, latente,
vaga, indecisa, medrosa.

Como ave torva e sem rumo,
ondula, vagueia, oscila
e sobe em nuvens de fumo
e na minh'alma se asila.

Uma tristeza que eu, mudo,
fico nela meditando
e meditando, por tudo
e em toda a parte sonhando.

Tristeza de não sei donde,
de não sei quando nem como...
flor mortal, que dentro esconde
sementes de um mago pomo.

Dessas tristezas incertas,
esparsas, indefinidas...
como almas vagas, desertas
no rumo eterno das vidas.

Tristeza sem causa forte,
diversa de outras tristezas,
nem da vida nem da morte
gerada nas correntezas...

Tristeza de outros espaços,
de outros céus, de outras esferas,
de outros límpidos abraços,
de outras castas primaveras.

Dessas tristezas que vagam
com volúpias tão sombrias
que as nossas almas alagam
de estranhas melancolias.

Dessas tristezas sem fundo,
sem origens prolongadas,
sem saudades deste mundo,
sem noites, sem alvoradas.

Que principiam no sonho
e acabam na Realidade,
através do mar tristonho
desta absurda Imensidade.

Certa tristeza indizível,
abstrata, como se fosse
a grande alma do Sensível
magoada, mística, doce.

Ah! tristeza imponderável,
abismo, mistério, aflito,
torturante, formidável...
ah! tristeza do Infinito!

10 comentários:

Sandra Gonçalves disse...

Eu li e reli o poema...
Tão lindo que li em voz alta somente para ouvir o som das palavras. Amo poemas assim.
Como queria escrever assim...
Parabens querido pelo bom gosto.
Bjos achocolatados

*lua* disse...

Olá!!!

A d o r e i !

Palavras suaves e muito sentidas.

Estou seguindo-o sem pedir licença.

abraços

Ju Fuzetto disse...

Lindo e Profundo!!!

abraço amigo

Ana Lucia Franco disse...

Reiffer, Cruz e Sousa é o poeta dos labirintos da alma. Juntamente com Cecília Meireles é o mais expressivo poeta simbolista brasileiro, pelo menos a meu ver. Nesse poema, ele "simbolizou" a tristeza arquetípica. A beleza de sua poesia nos enleva.

bjs.

Anônimo disse...

Adorei o poema, parabébs pelo blog!

um beijo

"o escondido"
http://encabuladas.blogspot.com

Elaine Barnes disse...

Um dia vou escrever assim com palavras e rimas tão perfeitas. Por hora só apreciar essa obra. Montão de bjs e abraços . Adorei e bebi o poema

*A CHAVE DOS MAGGI* disse...

Uma melodia sendo envolvia com o som das minhas palavras

Robson Schneider disse...

Interessante a forma como a tristeza foi devidamente "domada" nesse poema...
Brilhante e intenso.
Abraço alessandro

Mayson Laércio disse...

tb ando com uma tristeza assim!

amei o poema, ótima escolha!

gostei daki, seguindo ;)

Abraço

Gaivotadourada22 disse...

Parabéns pelo lindo blog... também sou fã do simbolismo, e assim Cruz e Sousa é também meu poeta preferido!!!
Aplausos pela sua refinada percepção poética!!!
Abraços!