09 julho 2009

No Mistério do Eterno Retorno (1ª Parte)


No mês de março do ano de 1547, cheguei pela primeira vez às vastas terras daquela nova e magnífica região. Sendo eu um eterno apaixonado pela natureza e por suas mais diversas manifestações, possuía apenas um único objetivo ao deixar a Europa para visitar aquelas surpreendentes terras a pouco descobertas: conhecer, através de um contato direto e perdurável, toda a sua fantástica e paradisíaca flora e fauna, alucinado como estava pelas quase sobrenaturais histórias que me eram narradas na Europa a respeito das luxuriantes florestas e dos deslumbrantes e estranhos animais que aqui existiriam.

De modo que ao chegar ao meu destino, não perdi tempo em organizar uma expedição para me acompanhar em uma excursão ao interior de uma floresta que aparentava ser infinita e cujo aspecto monumental e misterioso irradiava uma terrível sensação de estarmos diante de algo absolutamente sobre-humano, e que, por isso, deveríamos respeitar e reverenciar como os próprios deuses.

Diferentemente do que geralmente ocorria, minha pequena expedição não tinha nenhum interesse de exploração econômica ou científica, mas, ao contrário, consistia em algo de puro interesse contemplativo, artístico e poético, eu diria, apenas para satisfazer e elevar a alma com tão majestática grandeza, cujos inextrincáveis enigmas e mistérios me seduziam de forma arrebatadora.

Aos poucos, com certa dificuldade, mas também com imenso prazer, ao menos de minha parte, eu e meus companheiros fomos penetrando naquela vegetação exuberante e infindável, que aparentava ser o cenário de alguma nebulosa lenda mitológica. Instantes depois, tomado de uma fascinação que me exaltava a consciência, sem saber esclarecer como, vi-me, em determinado momento, sozinho em meio à labiríntica selva. Todos os meus companheiros haviam desaparecido, não ouvia mais suas vozes ou passos ou o som de suas ferramentas para abrir passagem na mata... Agora, era só eu e a natureza selvagem e monárquica. Longe de sentir-me amedrontado, fui invadido por uma sensação de puro êxtase e tranquilidade, que me fez prosseguir por entre a vegetação estranhamente emocionado e confiante...

Ao longo de meu percurso, em que avançava lentamente, passava ao lado de gigantescas árvores de aspecto solene que deixavam a impressão de moverem-se em minha direção, como que me observando na curiosidade de entender a minha presença naquele mirífico local, muito provavelmente sendo pisado pela primeira vez por um membro da civilização européia. Encontrava-me cercado pelas mais estranhas e exóticas formações vegetais, ouvia maravilhado os esplêndidos e bizarros cantos de aves absolutamente desconhecidas, alguns belíssimos e celestiais, outros verdadeiramente assustadores. Mesmo em completa solidão, não me sentia solitário, era como se todos aqueles seres desconhecidos consistissem em companheiros confiáveis e conscientes de minha presença, e eu tinha a esquisita impressão de que esta não era por eles considerada hostil...

O dia, um tanto quente, mas cujo calor era pouco percebido no frescor daquela sombria e fechada floresta, resplendia com um sol titânico que imperava no céu de manto plenamente azul. Ventava uma brisa salutar por entre a vegetação, e com ela miríades de perfumes e aromas que se poderia afirmar terem vindo do paraíso, ou de outras regiões celestiais... Creio que não devia passar das 9 horas da manhã, quando vi o primeiro mamífero na floresta, justamente no momento em que me deliciava com os perfumes e incensos naturais. O animal era algo como um pequeno cachorro, semelhante à raposa européia. Olhou-me fixamente, para em seguida prosseguir em seu caminho com absoluta tranquilidade. Enquanto isso, a complexa sinfonia dos pássaros prosseguia. Infinidades de borboletas multicores e outros insetos inconcebíveis esvoaçavam pelos ares, ao mesmo tempo em que eu verificava que já me encontrava com a roupa molhada devido ao contato que tivera com o orvalho cintilante que gotejava de todas as folhas e com as etéreas névoas de umidade que se alastravam por entre as árvores. Simultaneamente, eu podia avistar um sem-número de aves nunca vistas ou descritas, em um espetáculo estonteante e comovente.

Sentia-me imerso em outro mundo, em um selvagem universo de magia, absolutamente olvidado por toda civilização humana. À medida que avançava mais e mais por entre a densa e sonora floresta, o número de animais que avistava foi aumentando consideravelmente, e o espetáculo de uma inaudita e estarrecedora natureza dominou-me de forma perene, tanto que eu quase não me recordava do fato de que me encontrava isolado em um ambiente, além de mágico, potencialmente perigoso, cujos perigos eu desconhecia quase que totalmente.

No entanto, isso não me preocupava, pois sou dotado de um espírito sonhador e apaixonado, jamais prático e calculista. De modo que não senti medo ao avistar enroscada em um alto galho uma imensa serpente esverdeada que calmamente me vigiava. Então, passei a despender mais atenção às copas das árvores e agora contemplava pássaros absolutamente inacreditáveis, de uma plumagem quase sobrenatural, com variações e combinações de cores que pareciam ter surgido da mais louca imaginação. E tudo se transformou em uma eufórica gritaria agradabilíssima emitida por aquelas aves de enormes bicos multicores, tão deslumbrantes que jamais pensei pudessem existir.

Avistava ainda pequenos felinos, diversos tipos de répteis, roedores, alguns gigantescos, e inimagináveis macacos, alguns muito pequenos, um tanto estranhos e diferentes de tudo o que já conhecera, extremamente curiosos, ágeis e irrequietos, com espessa pelagem brilhante e de várias cores, algumas chegando a um encantador dourado, de aspecto um tanto delicado e simpático. Também me impressionou a visão daquele imenso animal caminhando por entre a mata, assemelhando-se levemente a um cavalo baixo e gordo.

Após mais algum tempo de difícil, porém deleitosa caminhada pela floresta, principiei a ouvir o som de correntezas. Guiado pelo som, atingi as margens de um colossal e belíssimo rio. Então pela primeira vez senti verdadeiro medo, pois ao olhar ao alto de uma imponente árvore de flores vermelhas e amarelas divisei, em um de seus galhos, um enorme felino muito semelhante a um leopardo, talvez um pouco maior. O animal me observava de forma fixa, e eu, extático e assustado, mantive-me imóvel, mirando os olhos da fera detidamente. A partir desse instante não sei dizer o que ocorreu comigo, se foi realidade ou alucinação. Só o que sei é que permaneci ali com os olhos cravados no felino, e ele com os seus nos meus, enquanto o cenário se modificava de forma absurda, em uma velocidade vertiginosa. Somente o que permanecia inalterado era minha localização, a do felino e a da árvore em que ele se encontrava semideitado...


Amanhã, a parte final.

4 comentários:

M. D. Amado disse...

Opa... Sacanagem deixar a segunda parte pra amanhã hehehe...

Shadow disse...

muito obrigada pela visita!!!!!! Também ja está nos meus links... muito obrigada.

Estou ansiosa para ver o final da historia.

Júlio César de Lima Prates disse...

BRILHANTE, GENIAL.

Davi Machado disse...

Cara!
que texto mais FODA!!!!!!!!!!!
pow!
vou logo pra outra parte!